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domingo, 1 de julho de 2012

DESENHO URBANO



O desenho urbano diz respeito à disposição, a aparência e funcionalidade das cidades e, em particular a forma e utilização do espaço público, sendo uma expressão técnica e artística de composição dos espaços urbanos.

Introdução

A produção de uma cidade não deve ser entendida apenas pela distribuição de edifícios ao longo de um território, criando funcionalidade e condições de desenvolvimento econômico. O desenho urbano deve ser também o resultado da produção voluntária do espaço, pelo qual todos os indivíduos relacionados com ele, deixam sua marca e contribuição, obedecendo, claro, os métodos e regras impostas pelos governantes.

Segundo Platão, a cidade podia ser dividida em três tipos de classes: os governantes, os guardiões e os artesãos; e, somente se mantidas essas divisões é que a cidade poderia alcançar sua unidade harmônica e se manter. Os primeiros, governantes, possuem o saber para legislar e governar, com a ajuda dos guardiões, que possuem a bravura e ousadia necessária, controlando e colocando regras e limites aos artesãos, que são os que produzem bens materiais, estabelecendo assim a harmonia entre todos, e uma cidade mais justa possível.

O desenho da cidade se daria então conforme esses três tipos de indivíduos, baseado na técnica, na segurança e na função, ou seja, na racionalidade.

Outros desenhos de cidade marcaram a vida urbana, trazendo sempre a função em primeiro plano, como as ideias inglesas de cidades-jardim, ocorridas no final do século XIX, buscando integrar à paisagem urbana o equilíbrio entre crescimento econômico e os problemas sociais pelos quais passavam a sociedade. As preocupações de integração entre cidade e campo tinham como objetivo contornar a migração do campo, dispondo para tal um sistema de transporte público eficiente e de cinturões verdes ao redor das cidades. Segundo Howard, “a cidade e o campo devem estar casados, e dessa feliz união nascerá uma nova esperança, uma nova vida, uma nova civilização”.

Howard não pretendia privar algumas pessoas do convívio urbano, deixando-as no campo, mas sim desejava que se controlasse o tamanho da zona urbana, para que ela continuasse a proporcionar aos seus habitantes uma boa qualidade de vida. Para isso, sugeria que as zonas urbanas deveriam ter um tamanho padrão de para certa população, e, assim que esse limite fosse atingido, novos espaços deveriam começar a ser habitados, formando outros centros urbanos. A área rural seguiria a mesma lógica da área urbana.

Esse pensamento estava voltado para a resolução do problema urbano, proporcionando moradia digna para a população, em uma vida comunitária sustentável. Isso significa que o desenho urbano influencia diretamente a vida na cidade, em sua visão estética, como articulação de diversas funções, ou apenas como prazer e investimento.

Desenho Urbano como definição da “polis”

Lynch descreve em seus estudos sobre desenhos urbanos alguns modelos de formas que poderiam definir as cidades. Faz ainda uma análise a respeito dessas formas, incluindo seus motivos de implantação e quais os possíveis resultados, tanto prós como contras.

Os modelos de referência para tal estudo são os seguintes:

·      Modelo estrela – tem um centro definido onde ocorrem as principais atividades da
cidade, e, a partir dele, irradiam as linhas para onde se desenvolve a cidade. Ao longo desses eixos podem ocorrer alguns subcentros, agrupando então outras atividades. É um modelo racional de cidade, bastante ocorrido espontaneamente, quando as cidades cresciam com certo ordenamento no sentido exterior. À medida que vai crescendo, esse modelo de cidade desenvolve então vias concêntricas, formando cruzamentos. É um modelo que funciona bem para cidades de médio porte, pois, a certo tempo, pode sobrecarregar o centro devido aos grandes fluxos nesse sentido;

·      Cidade satélite – uma cidade rodeada por comunidades satélites, ou seja, dependentes
desta principal. Segue o princípio da estrela, porém numa escala maior, e as cidades secundárias devem ter tamanhos limitados, mantendo a eficácia pretendida. Quando a cidade satélite chega a seu limite máximo, outra deve então começar a ser povoada. As cidades satélites permitem a manutenção do cinturão verde ao redor da cidade principal, garantindo, dessa forma, certa qualidade de vida para a população envolvida;

·      Cidade linear – essa é uma concepção teórica de cidade, pois em muitos momentos
não pode realmente ser aplicada. É baseada numa linha, com algumas paralelas, ao longo das quais ocorrem todas as atividades urbanas. Esse modelo torna a cidade muito extensa, com grandes dimensões lineares, e não possui um centro bem definido, tornando muito grande as distâncias entre as diversas atividades. Por isso esse modelo é funcional apenas para pequenas escalas;

·      Cidade em grelha retangular – a cidade é estruturada de acordo com uma malha
retangular, dividida em blocos semelhantes, e com possível crescimento para todos os lados, considerando que esta forma não possui fronteiras pré-definidas. Os terrenos possuem o mesmo formato e todos os pontos possuem acessibilidade às diversas atividades dentro da cidade; 

·      Rede axial barroca – é formada por um conjunto de pontos nodais (pontos de
referência, marcos, através dos quais as pessoas conseguem se situar dentro da cidade) distribuídos ao longo da área urbana, geralmente localizados em pontos de destaque no território. A área urbana é definida por uma malha triangular, onde os edifícios podem ser implantados livremente, apenas respeitando as vias principais e os pontos nodais. Esse modelo funciona para cidades de médio porte, onde seja de relevante importância a localização por meio de pontos de referência;

·      Modelo rendilhado – pode ser definido como um pequeno aglomerado, onde as vias
encontram-se bastante espaçadas, intercalando grandes espaços, normalmente terrenos destinados a plantações ou grandes áreas verdes. Deve se destinar prioritariamente a ocupações de baixa densidade; dessa forma, as vias não são sobrecarregadas. Essas áreas podem ser definidas como semirrurais, uma forma de transição entre o meio rural e o urbano;

·      Cidade interior – é uma cidade delimitada por muralhas, extremamente protegida do
meio externo. Vias principais conduzem as vias locais que, por sua vez, levam a becos de menos dimensão até chegar a edificações e terrenos privados. Tudo possui um controle rígido, podendo até mesmo ter acesso restrito a certos pontos;

·      Cidade em ninho – a cidade é idealizada com anéis concêntricos, definidos por
muralhas, que vão crescendo uns ao redor dos outros. Ao centro está o local mais sagrado, normalmente o templo religioso, e a população de menor renda situa-se nas partes periféricas. As vias principais situam-se paralelas aos muros, as vias de ligação são menores e nem sempre contínuas, criando ambientes descontínuos, tanto em relação à paisagem quanto em relação aos espaços e atividades urbanas;

Visões atuais sobre o Desenho Urbano

Há várias formas de cidades sendo estudadas ultimamente, pretendendo reavaliar os padrões de ocupação do território urbano. Uma dessas novas formas é conhecida como megaforma, onde a cidade se realiza como uma única estrutura com vasto território ocupado e grande densidade. As habitações e comércios em geral são concentrados em grandes edifícios, como um setor autossustentável, com áreas verdes localizadas em terraços e coberturas. Essa proposta mostra-se eficaz no que diz respeito à ocupação com parcimônia do território, mas pode se tornar desagradável para quem a utiliza e requer muitos recursos para construção e manutenção.

Alguns outros teóricos sugeriram cidades envoltas por grandes bolhas transparentes, permitindo a passagem de luz, protegendo contra as intempéries e proporcionando o controle total do clima local. Alguns problemas, porém, ficaram sem solução, como o grande custo necessário para tal, o controle da poluição interna e a adaptação da população para o convívio em tal ambiente.

Outra forma de viver também foi motivo de estudo, como a possível concepção de cidades flutuantes, acontecendo sobre oceanos e extraindo, destes, alimentos e demais necessidades de sobrevivência, porém ainda sem maiores estudos de viabilidade.

De forma parecida encontram-se as comunidades subterrâneas ou subaquáticas. É sabido que esse tipo de comunidade difere muito dos preceitos com os quais a população está acostumada, as cidades propriamente ditas; porém não podem ser tidas como impossíveis. Apenas necessitariam de mudanças nos padrões com os quais estamos acostumados a conviver a séculos.

Nos anos 1970, o desenho urbano sofreu grande revisão perante o que era então praticado. Inseriu-se uma preocupação com a forma urbana, ao mesmo tempo em que novos conceitos e métodos entravam em discussão.

As cidades atuais, porém, guardam heranças dos preceitos previstos na Carta de Atenas. A proposição da cidade funcional definia como funções básicas para esta: habitar, trabalhar, recrear e circular, frente à considerada obsolescência do tecido urbano então existente.

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