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quinta-feira, 12 de julho de 2012

PSICOLOGIA SOCIAL APLICADA



A Psicologia Social permite a interconexão entre as dimensões do espaço, no momento em que um determinado fenômeno ambiental produz um estímulo, induzindo um indivíduo a construir, objetiva e subjetivamente, uma visão de realidade do mundo que o cerca.

Introdução

Os estudos a respeito das relações psicossociais entre o homem e o espaço construído têm uma história recente. Eles surgiram em decorrência do aumento da complexidade não só da atividade de construção do espaço, mas de transformações sociais, culturais e políticas de indivíduos e grupos envolvidos no uso do espaço construído. O objetivo principal deste trabalho é refletir a respeito da dimensão psicossocial na construção do espaço a partir da ótica do usuário.

Podemos dizer que as trocas entre os protagonistas da construção do espaço, especialistas e não especialistas, sempre ocorreram. Mas essas trocas deixaram de ser feitas através de interações diretas na medida em os especialistas passaram a projetar e executar construções de uso público ou privado em escala industrial e segundo critérios não escolhidos por parte dos usuários, num ambiente social de ampliação de escolarização e democratização política, gerando muitas vezes insatisfação, perplexidade, conflito e rejeição.

Dos anos 1960 para cá tem havido um aperfeiçoamento crescente das trocas entre especialistas e não especialistas a respeito do espaço construído. Pode-se levantar a hipótese de que existem dificuldades de comunicação entre especialistas e não especialistas na medida em que estes não conseguem desenvolver um discurso/prática em que ambos os polos da construção do espaço não são considerados simultaneamente, em termos de interesses, instrumentos, perspectivas culturais, ações e resultados. Ou seja, um sintoma dessa situação de defasagem é quando os usuários separam radicalmente o exterior e interior de um espaço construído, por exemplo, em termos de espaço público e privado. Inicialmente, poderíamos verificar tal situação histórica a partir da perspectiva dos usuários.

Podemos afirmar que tem sido dada mais ênfase a aspectos racionais na construção e avaliação do espaço, através de linguagens verbais, que costumam veicular tanto conteúdos considerados convencionais, quanto temporariamente convenientes, muitas vezes para atender expectativas de grupos mais influentes na sociedade, mantendo outros conteúdos latentes ou inconscientes, conforme o caso.

Nesse sentido, uma psicóloga social, pesquisando atitudes em relação ao doente mental por meio de questionários, constatou que havia uma tendência de respostas favoráveis entre os grupos em função do aumento da escolaridade e idade, o que não se dava quando os mesmos se expressavam através de desenhos sobre o mesmo assunto, as atitudes tendendo a manterem-se desfavoráveis. Ela interpretou tais resultados com o uso de questionários, em função da busca de construção de autoimagem social para seguir tendência influente no espaço público de atitude favorável ao doente mental, mantendo em nível latente os conteúdos desfavoráveis a respeito. Já os conteúdos explicitados através do desenho, segundo a mesma pesquisadora, seria consequência da influência de uma iconografia cultural italiana impregnada de imagens desfavoráveis em relação aos doentes mentais.

Psicologia na Arquitetura

No âmbito do consumo de obras culturais, por sua vez, a influência acadêmica ou política parece marcar muito o modo de apreensão das mesmas, prejudicando a expressão de indivíduos e grupos fora desses padrões culturais e políticos. Apesar disso, nos países onde existe oposição de critérios de avaliação cultural entre estes ambientes de exposição de arte e os diferentes meios sociais fora daí, costuma ocorrer explicitação de critérios culturais dos indivíduos e grupos e consequente dificuldade de comunicação – fenômenos que poderiam ser compreendidos de modo mais completo por meio de métodos indiretos de consulta.

Assim, um estudo sobre ações urbanas de invasão de terrenos mostrou que elas não se reduziam à improvisação desorganizada, seguindo uma estratégia racional complexa menos conhecida por urbanistas. Do mesmo jeito, os métodos de autoconstrução de moradias populares poderiam ser considerados mais elaborados do que aparentavam à primeira vista. Antes de tudo, se tratam de divisões sociais que impedem a comunicação e a informação de circular adequadamente, em função de tendência sistemática de não considerar como válidos e legítimos outros tipos de epistemologias do senso comum, que poderiam dinamizar a sociedade de modo mais radical.    

Ao lado disso, a arquitetura e as artes plásticas vêm passando, desde a modernidade, por um processo de transformação muito intenso e rápido em termos de conceito, tecnologia, relação com o público.

Tal processo histórico empreendido por profissionais e inventores do espaço construído, que poderíamos dizer de afastamento, senão de ruptura com o senso comum, gerou um fenômeno de representações sociais na sociedade. Ou seja, depois de um longo período em que as obras de arte podiam ser apropriadas pelo menos parcialmente por parte de leigos, surgiram tendências estéticas internacionais no século XX que levaram a arte, sobretudo após os anos 1950, para buscas conceituais e existenciais fora do senso comum, gerando dificuldades tanto de produção, quanto de comunicação de arte com o público em geral.

No âmbito da arquitetura, mais especificamente, na modernidade, mesmo empregando tecnologias avançadas, muitos arquitetos – talvez por força da necessidade de comunicação e financiamento público maior dos seus trabalhos – usaram por um longo período linguagens relativamente acessíveis para o grande público. Apesar disso, acreditamos que o processo de produção arquitetônica intensificou a tendência de especialização ao longo de todo século XX, inclusive depois de consolidação da publicidade em termos tecnológicos, quando o emprego de psicologia de massas aumentou sobremaneira, existindo algumas similaridades entre os shoppings e museus em termos de propostas de relacionamento entre o público consumidor e objetos nos ambientes de exposição, cabendo mais pesquisas.

A teoria das representações sociais formalizou o modo de apropriação e transformação de uma teoria de origem acadêmica – a Psicanálise – por parte de leigos e outros personagens. Segundo o autor, a situação cotidiana urbana e moderna em que um sujeito entra em contato e atua em relação a um objeto como uma obra de arquitetura, é geradora de conhecimentos e práticas relativamente livres a seu respeito. Tal atividade psicossocial seria mediada por conteúdos socioculturais preexistentes no repertório do sujeito, mas, sobretudo, expressamente construídos para este fim.

Aspectos objetais e conceituais

As representações sociais poderiam ser manifestar a partir de dois aspectos fundamentais: objetais e conceituais, os quais constituiriam processos de formação de conhecimentos e práticas sociais.

A “objetivação” se daria a partir da materialização/concretização do objeto em função de seleção e descontextualização de dimensões físicas do mesmo; naturalização, transformando o objeto de representação em algo da natureza. Já a “ancoragem”, seria o processo de reconstrução do objeto em termos de atribuição de sentido e uso social que se dá ao mesmo. Ambos os processos de produção de representações sociais se dariam segundo critérios dos próprios sujeitos, culturais, históricos, políticos, etc. Ou seja, mesmo quando o sujeito usa um repertório de outro grupo ou, mesmo, de algum conhecimento remoto e às vezes abandonado do seu próprio grupo, ele o faz em situação, nem sempre reproduzindo os mesmos significados anteriores, tendo em vista o dinamismo social vivido em cidades, onde existe pressão constante para pensar e apresentar posições sobre vários assuntos novos.

Ademais, o mesmo autor em seu modelo teórico tratou de dimensões do conhecimento social informal em que as atitudes, ou posturas globais do sujeito em relação ao objeto, favorável, neutra ou desfavorável, orientam a conduta e pensamento do sujeito. A informação foi outra dimensão considerada, levando em conta que existem aspectos no caso de uma teoria acadêmica, como os conceitos descritivos e explicativos, que fazem parte essencial do objeto.

Tendo em vista a situação histórica dos leigos de pouco repertório verbal sobre objetos acadêmicos, muitos analistas frequentemente consideram essa dimensão a partir de significados usados para tratar dos mesmos, sem levar em conta se eles são pertinentes ou intrínsecos. Do mesmo jeito a outra dimensão, a do campo de representação ou imagem, supõe que um objeto de representação se organize em conjuntos articulados, em formatos que tendem a um discurso social, combinando elementos de atitude e informação/significados, para o qual é necessário um repertório mínimo. Acreditamos que o uso do desenho, sobretudo no caso da arquitetura e urbanismo, facilite a expressão desses conjuntos, tendo em vista que esses objetos de conhecimento já apresentam conteúdos plásticos em seus produtos, como outros objetos sociais espaciais já estudados pela psicologia social.

É preciso dizer que muitos conhecimentos especializados sobre arquitetura e urbanismo não são buscados pelos sujeitos em função de falta de envolvimento psicológico com o assunto, merecendo igualmente atenção e pesquisa sob pena de emergência de fenômenos de anemia, muito comum em sociedades que perderam a expectativa de ação racional no espaço público, que geram vácuos de poder sociocultural preenchidos por uns indivíduos e grupos em detrimento de outros. Supomos que a atividade de construção do espaço por parte da sociedade passa pela adoção de uma perspectiva em que os leigos, independente de seus níveis de escolaridade ou classe social, são capazes de assumir plenamente, como indivíduos e grupos particulares, suas diferenças socioculturais, suas autonomias de pensamento e ação, suas delimitações espaciais, do corpo ao ambiente físico objetivo. 

A obra de Oscar Niemeyer

A obra do arquiteto Niemeyer tornou-se um símbolo coletivo tanto para a cidade de Brasília quanto para o país, merecendo avaliações mais aprofundadas. Parte do sucesso obtido pelo arquiteto brasileiro se deve a sua capacidade de tornar objetos de inspiração abstracionista e geométrica, de natureza mais intelectual e especializada, em figuras plásticas familiares. Mesmo assim, entre alguns arquitetos e usuários, é comum ouvir a queixa de que os trabalhos de Niemeyer seriam, por assim dizer, “esculturas” inventivas, feitas mais para serem contempladas esteticamente do que prédios construídos para serem usados como qualquer outro, cabendo um estudo psicossocial mais sistemático a respeito.

O espaço construído tem sido estudado por psicólogos e arquitetos a partir de várias abordagens psicológicas, psicossociais, entre outras. Trata-se de uma área em fase de consolidação no Brasil e outros países, entre os quais se incluem os trabalhos usando a abordagem das representações sociais. Segundo esta última abordagem, o analista trabalha com os conteúdos mentais e comportamentais que emergem espontaneamente das verbalizações/ações com relação ao objeto de representação social. 
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Assista a essa vídeo para ajudar a desenvolver mais o conteúdo de Psicologia Social Aplicada à Arquitetura. Esse vídeo foi feito pelo Portal da Educação e mostra a história da psicologia social e os principais conceitos para a atuação do psicólogo social por meio da compreensão e estudo da psicologia e a vida em sociedade além das práticas emergentes de atuação em Psicologia Social.


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