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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

SISTEMA DE SANEAMENTO DE ÁGUA II

IMPORTÂNCIA, HISTÓRIA E QUALIDADE DA ÁGUA


A água para o abastecimento humano requer a satisfação de diversos critérios de qualidade, o tratamento da água, a inter-relação entre o uso da água e a qualidade requerida para a mesma.


Importância econômica e sanitária dos sistemas de abastecimento d'água

A Organização Mundial de Saúde - OMS, estima que pelo menos dez mil pessoas falecem por dia em consequência de acidentes e doenças causadas por falta de habitação adequada e de serviços essenciais de água potável e esgotos sanitários. Nos países em desenvolvimento avaliou-se que aproximadamente 80% dos leitos hospitalares vêm sendo ocupados por pacientes com doenças causadas direta ou indiretamente pela água de má qualidade e por falta de saneamento. Assim, a importância sanitária do abastecimento de água é das mais discutidas; a implantação ou melhoria dos serviços de abastecimento de água traz como resultado uma rápida e sensível melhoria na saúde (diminuição das moléstias cujos agentes epidemiológicos são encontrados nas fezes humanas) e nas condições de vida de uma comunidade principalmente através de:

-     controle e prevenção de doenças;
-     promoção de hábitos higiênicos da população;
-     desenvolvimento de esportes (como a natação);
-     melhoria da limpeza pública;
-     conforto e segurança coletiva (refrigeração e combate a incêndio).

Esses benefícios se acentuam muito com a implantação e melhoria dos sistemas de esgotos sanitários. Tem sido constatado também que a implantação de sistemas adequados de abastecimento de água e de destino de dejetos, a par da diminuição das doenças transmissíveis pela água, indiretamente ocorre a diminuição da incidência de uma série de outras doenças, não relacionadas diretamente aos despejos ou ao abastecimento de água.

Verificou-se também a existência de uma correlação entre a redução de mortalidade por febre tifoide e a redução de mortes devido a outras enfermidades. Quando se reduz a mortalidade por febre tifoide mediante a distribuição de água de boa qualidade, provavelmente se reduz, também, por duas a três vezes a mortalidade devido a outras enfermidades. Como exemplo particular, esse efeito se observa com a mortalidade infantil.

A importância econômica do abastecimento de água é também verificada. A influência direta mais importante da sua implantação reside num aumento de vida média da população servida; numa diminuição da mortalidade em geral e, em particular, da infantil; numa redução de número de horas perdidas com diversas doenças; estes fatos se refletem numa maior eficiência nas atividades econômicas dos cidadãos (maior número de horas de trabalho), possibilitando, com isto, o aumento de produção.

A influência da água, do ponto de vista econômico, faz-se sentir mais diretamente no desenvolvimento industrial, por constituir, ou matéria-prima em muitas indústrias, como as de bebida, ou meio de operação, como água para caldeiras, etc.

A melhoria de um serviço de abastecimento de água acarreta a diminuição indireta no custo médio de uma enfermidade, incluindo despesas com médicos, remédios e descontos de salários.

Controle de qualidade da água como fator de saúde

A água possui uma série de impurezas, que vão definir mais características físicas, químicas e biológicas; a qualidade da água depende dessas características.

As características químicas das águas que escoam superficialmente ou nos lençóis subterrâneos descrevem a natureza do terreno ou a qualidade do subsolo ao longo de seu percurso.

A água pode, pois, incorporar uma grande variedade de substâncias, algumas inócuas, como o nitrogênio, oxigênio, etc., outras impurezas podem ser tóxicas ou prejudiciais à saúde. Dependendo da região até mesmo a água de poços subterrâneos pode apresentar teores excessivos de compostos indesejáveis de ferro, flúor e outros elementos.

É de grande importância que se comparem e selecionem fontes alternativas para o abastecimento público. É indispensável um levantamento sanitário da área, além da realização de diversas análises da água. As impurezas mais nocivas são aquelas que contaminam as águas: micróbios e substâncias radioativas.

A história de uma água

Através da análise química, compreendendo os teores de nitrogênio em suas diferentes formas, pode-se observar a história passada pela água através da presença de compostos do ciclo de nitrogênio. Assim, teores elevados de amônia indicam a presença e a quantidade de matéria orgânica azotada presente na água; os nitritos revelam matéria orgânica em fase da atividade bacteriana (oxidação) e os nitratos mostram que a poluição orgânica já atingiu a sua fase final de estabilização (poluição mais remota). Outra determinação valiosa é a dos teores de cloreto. O teor de cloretos pode ser indicativo de poluição por esgotos domésticos (próxima ou remota). O teor de cloretos varia com diversos fatores, principalmente com a distância do mar. Para determinado local, um excesso de 2ppm de cloretos sobre o teor normal na área é um indício de poluição (a urina causa excesso de cloretos).

O controle de qualidade da água deve ser feito:

-     Procurando-se impedir a contaminação de mananciais de água;
-     Tratando-se convenientemente a água; controlando-se a qualidade da água em reservatórios de distribuição da rede;
-     Dando-se instruções de higiene ao usuário para não deteriorar a água fornecida, ou seja, evitando a contaminação da água em instalações e em reservatórios domiciliares e prediais.

Alteração da qualidade da água

Analisemos o ciclo de uso da água para entender como ela tem sua qualidade alterada.

   A água da chuva proveniente da água evaporada das grandes massas líquidas é uma água destilada que se aproxima da “água pura”. Ao atravessar a atmosfera dissolve gases (O2; N2; CO2) e poeiras em suspensão. Nesta fase é menos freqüente a existência de micro-organismos patogênicos.

   A água da chuva chega ao solo. Dependendo da geologia (terrenos mais ou menos permeáveis), da topografia (terrenos mais ou menos inclinados), dependendo da cobertura vegetal, parte da água se infiltra, parte se evapora e parte escoa superficialmente até encontrar um córrego, um rio, um reservatório ou um lago.

   A água que escoa superficialmente terá, sempre, mas em teores variados:

-     Sólidos dissolvidos em face da capacidade de ser a água um excelente solvente. A presença de alguns sólidos pode não preocupar sanitariamente, mas outros podem causar problemas.

-     Sólidos em suspensão - carreados em face da velocidade e capacidade de ser a água um excelente solvente. A presença de alguns sólidos pode não preocupar sanitariamente, mas outros podem causar problemas.

-     Detritos (que estarão ou dissolvidos ou em suspensão) que podem ser de origem vegetal (ex: húmus e o tanino que dão cor ao rio Negro); de origem animal (restos de animais mortos ou suas excretas) e restos de atividade humana de todo tipo.

Por isso, na grande maioria das vezes, as águas superficiais não atendem aos padrões de potabilidade fixados pelas normas (embora possam, eventualmente, não causar doenças). Somente rios de cabeceiras, correndo em solos arenosos e rochosos e em bacias protegidas, é que podem eventualmente atender às normas de potabilidade, mas lembrando que até excretas de animais silvestres podem ter contaminantes. Por segurança, o uso de águas superficiais deve, no mínimo, ser feito com adição de um desinfectante (cloro) que tenderá a eliminar a maior parte de microorganismos, incluindo aí os eventuais patogênicos de doenças de veiculação hídrica.

4º  A maior parte das águas de chuva cai nos mares, pois sua superfície é varias vezes maiores que a dos terrenos. Os mares são também alimentados pela chegada dos rios (foz).

5º  Se a água ficou no lençol subterrâneo (convencionalmente o que se situa a mais de 50 m de profundidade) deverá ser retirada por bombas. Há casos (poucos) de afloramento de água subterrânea (poço jorrante). Isso se deve ao fato de estar a água às vezes confinada por camadas impermeáveis e por razões de topografia, o lençol confinado aflora, e água com pressão sai do terreno jorrando.

A água do lençol subterrâneo, e em geral é, proveniente de pontos de infiltração distantes dezenas e até centenas de quilômetros do local da captação. Seguramente, se quando a água que se infiltrou tinha micro-organismos, eles desaparecerão ao longo do percurso ao percolar no solo. Se a água subterrânea não contém micro-organismos, ela pode carregar alto teor de sólidos dissolvidos dependendo do terreno no percurso. Em terrenos ricos em calcário, o passar da água subterrânea, ao solubilizar o solo, forma até cavernas.

A água subterrânea em face de toda sua história de formação:

-     Pode possuir características que atendam a todos os padrões de potabilidade, e uma desinfecção só seria necessária quando se deseja uma garantia adicional, por medo de contaminação no sistema de distribuição (caixas de água mal conservadas, por exemplo);

-     Pode ter contaminação biológica através de infiltração na parte superior do poço por água do lençol freático eventualmente contaminado. Evita-se essa contaminação com a impermeabilização do poço nos primeiros 15 metros, e impedindo que as águas de enxurrada entrem no poço.

-     Pode não ter características de potabilidade pelo fato de transportar sólidos que causem gosto e cheiro à água. Como regra geral, é muito fácil remover sólidos suspensos na água do que sólidos dissolvidos (ex.: é a dificuldade de tratar a água do mar para fins potáveis). As águas de poços profundos têm, às vezes, temperatura superior à ambiente. Isso se deve ao fato de, ao passar por solos subterrâneos, ocorrer reações exotérmicas (liberação de calor). Essas águas térmicas são fonte de atração turística, e para serem usadas no sistema de abastecimento costumam ser resfriadas em torres de aeração.

6º  Águas de minas e nascente – são as que se infiltram e por razões de relevo voltam a superfície. O ponto de origem da infiltração pode estar próximo ou distante. Como é uma água que passou pelo lençol subterrâneo, sofre algum tipo de filtragem e uma eventual contaminação anterior por micro-organismos foi contida ou limitada. Normalmente as características de cor, turbidez e presença de micro-organismos dessas águas são sensivelmente melhores do que as das superficiais (rios e córregos). Para usar água de nascente é preciso tomar alguns cuidados mínimos:

-     As nascentes devem ser protegidas por valetas que impeçam contaminação por águas de enxurradas, águas essas sempre suspeitas;

-     Ter cuidado para afastar das proximidades, residências e criação de animais, a fim de evitar que dejetos penetrem no lençol freático que abastece a nascente;

-     Por cautela, águas de nascentes, quando possível devem ser canalizadas e represadas, onde será desejável uma cloração.
           
7º  Poços rasos (captação do lençol freático). A diferença entre poço raso e profundo está na profundidade da escavação. Poços rasos possuem profundidades de aproximadamente 20m. Na maioria das vezes são de escavação manual pelos chamados poceiros e, por isso, tem diâmetro maior que os poços profundos, que são escavados mecanicamente, e possuem diâmetros da ordem de 20 a 50m.

O poço raso retira água do primeiro lençol (freático), onde a água entrou no maciço terroso e a filtração que ocorre através da percolação do terreno possivelmente não ocorre e, assim, podem ser alimentados por águas contaminadas. Os poços rasos são escavados próximos às residências e, portanto, perto de focos de contaminação. Para que as águas de poços rasos tenham melhor qualidade é preciso:

-     construir os poços a montante de fossas próximas;

-     dar destino adequado aos esgotos por meio de fossa séptica e valas de infiltração situadas o mais distante possível do poço;

-     enterrar o lixo, evitando o ataque por ratos, baratas e moscas;

-     a abertura do poço deve estar em cota mais alta que o terreno, para impedir que águas de enxurradas o atinja;

-     fazer periódicas limpezas e desinfecções do poço com água de lavadeira (hipoclorito de sódio), etc.

8º  As águas de rios e lagos, por receberem contribuições de águas superficiais e por drenarem grandes bacias onde sempre há ocupação humana (uso urbano, industrial e agrícola de área), nunca atendem os padrões de potabilidade. Os mananciais protegidos têm toda a bacia contribuinte desapropriada, e não há, em toda a bacia, nenhuma casa, nenhuma atividade agrícola ou industrial.

9º  O tratamento convencional é composto de tratamento químico de coagulação, decantação, filtração e cloração.

10º Por vezes temos que usar mananciais altamente poluídos por falta de outra solução Nos tratamentos especiais podem ocorrer pré-cloração, dupla filtração, emprego de carvão ativado e de ozona, etc.

11º O manancial mar. Até há alguns anos pensar em água do mar para uso potável era uma alternativa econômica fora de cogitação. Hoje, o mar é fonte de água potável no Kuait; em plataformas oceânicas de prospecção de petróleo e em grandes embarcações.

12º Sistema de distribuição. A água tratada é potável, passa para a rede e deve chegar em condições de potabilidade até a torneira do usuário mais distante. Os fatores que podem contribuir para que isso não ocorra são:

-     A rede distribuidora fica seca e a água do lençol freático (sempre poluído) pode penetrar através de juntas com defeitos, situação essa que não ocorre quando se mantém a rede em carga (com pressão) que é a melhor proteção sanitária da rede de água.

-     Caixas de água domiciliares e prediais sujas. Pelo menos a cada seis meses cada reservatório deveria ser lavado, desinfetado e verificado se não apresenta possibilidade de contaminação.

Para se ter certeza de que a água chegará potável a torneira, uma das preocupações adicionais às já citadas é manter ao longo de toda a rede um teor mínimo de cloro. Um sistema só pode ser considerado confiável se permanentemente produz água dentro dos padrões estabelecidos.

13º Sistema de esgotos. A água usada de alguma forma e em alguma proporção terá que ser disposta e o ideal é que seja pela rede de esgotos. Se for um sistema individual de disposição, caso de habitações isoladas, o terreno e o lençol freático serão seu destino. No caso de cidades, deve haver uma rede de esgotos com tratamento adequado. O efluente tratado pode ou não ser clorado, dependendo dos usos do corpo receptor a jusante. A tendência atual é desestimular, sempre que tecnicamente possível, o tratamento individualizado pelas indústrias de seus despejos (e de lixo) preferindo-se que o mesmo seja dirigido para a rede pública de esgotos. Caberia à indústria apenas fazer, quando necessário, um pré-tratamento corretivo para impedir que, por exemplo, despejos ácidos explosivos ou inflamáveis atinjam a rede e a destrua. O resto, ou seja, todos os outros tipos de despejos podem e devem ser ligados à rede pública mediante um sistema de tarifas. Com isso se consegue:

-     economia de escala;

-     a indústria não consome nem espaço e nem se dedica a uma atividade que não é sua atividade-fim;

-     melhor controle de qualidade de locais de tratamento, pois o número destes locais será menor e o pessoal de alto nível necessário ficará reduzido.

14º Tratamento industrial da água para fins especiais. Algumas indústrias não se satisfazem com quantidade de água potável. Nesses casos elas próprias fazem tratamentos específicos, como a remoção de sais que causam dureza e que podem dar problemas em suas caldeiras de alta pressão. Certas tecelagens removem adicionalmente ferro e manganês, algumas indústrias removem cloro, outras oxigênio dissolvido e outras removem quase todos os sais para diminuir a condutividade elétrica da água.

15º Rios, lagos e mares são o destino final dos esgotos tratados. Com o crescimento da população e da atividade industrial e agrícola, a qualidade das águas dos rios e lagos vêm em muitos casos se deteriorando progressivamente. Por vezes, tratamentos convencionais de esgotos (processo biológico) já não são suficientes, e impondo exigências adicionais como, por exemplo, a remoção de fósforo para impedir que nos cursos d’água haja um crescimento exagerado de algas (o elemento fósforo é necessário a esse crescimento, sendo sua remoção um fator limitante).

A poluição por atividades agrícolas que podem lançar nos rios defensivos e adubos é um novo tipo de poluente que começou a preocupar as autoridades sanitárias nos últimos 30 anos.

As impurezas contidas nas águas são adquiridas nas diversas fases do ciclo hidrológico; (manancial) e na distribuição.

·      Precipitação atmosférica ® as águas de chuvas podem arrastar impurezas existentes
na atmosfera (O2, N2 e CO2) e poeiras em suspensão. Nesta fase é menos frequente a existência de micro-organismos patogênicos.

·      Escoamento superficial ® as águas lavam a superfície do solo e carreiam as
impurezas existentes: partículas terrosas, detritos vegetais e animais, fertilizantes, estrume, inseticidas (áreas cultivadas), etc.; podem conter elevada concentração de micro-organismos patogênicos; muitas impurezas podem inclusive ser carreadas juntamente com as águas que se infiltram no solo.

·      Infiltração no solo ® nesta fase há certa filtração das impurezas, mas dependendo de
características geológicas locais, muitas impurezas podem ser adquiridas pelas águas, através, por exemplo, da dissolução de compostos solúveis. Por outro lado, as impurezas podem ser carreadas para outros pontos, através, do caminhamento natural da água no lençol aquífero; este pode estar contaminado, por exemplo, por matéria fecal originada de soluções inadequadas para o destino final dos dejetos humanos, como as fossas negras.

·      Despejos diretos ® águas residuárias e lixo, esgotos sanitários, resíduos
líquidos industriais, indevida e/ou inadequadamente lançados nas águas naturais, vão levar impurezas que poluem as águas naturais; inclusive podem favorecer o desenvolvimento de tipos inconvenientes de algas.

·      Represamento ® nas represas as impurezas sofrem alterações decorrentes de ações de
múltiplas naturezas (física, química, biológica); o repouso pode, contudo, favorecer a melhoria da qualidade da água pela sedimentação, principalmente das partículas maiores, purificando até certo ponto a água. E igualmente considerável a ação dos raios solares.

·      Captação ® não deve ser localizada a jusante de um lançamento de esgotos,
devendo-se mudar, ou o local de captação, ou o ponto de lançamento dos esgotos.

·      Adução ® deve ser executada com os devidos cuidados; por exemplo, não se deve
aduzir água tratada em canais abertos.

·      Tratamento ® nas próprias instalações de tratamento existem possibilidades de
contaminação, como por exemplo, em filtros em mau estado, com descontinuidade na sua camada de areia (“crateras”), em canais abertos que conduzem água filtrada, etc. A cloração da água, quando feita inadequadamente também pode apresentar problemas de insegurança sanitária, mau cheiro, etc.

·      Recalque ® o sistema de distribuição de água deve ser bem projetado; por exemplo,
as linhas de distribuição de água devem estar a mais de três metros das linhas de esgotos. Os reservatórios de água tratada devem ser cobertos

·      Instalações hidráulico-sanitárias prediais ® devem ser executadas com materiais e
técnicas adequadas; por exemplo, o emprego excessivo de tubos de chumbo pode causar a doença denominada saturnismo; as instalações devem ser bem executadas para se evitarem as interconexões perigosas, e as possibilidades de refluxos perigosos que podem introduzir água contaminada no sistema de distribuição de água.

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