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terça-feira, 20 de setembro de 2011

TENSÕES E DEFORMAÇÕES



A imagem mostra a corrosão do aço causado pela tensão.

Introdução

Os conceitos de tensão e deformação podem ser ilustrados, de modo elementar, considerando-se o alongamento de uma barra prismática (barra de eixo reto e de seção constante em todo o comprimento).

Considere-se uma barra prismática carregada nas extremidades por forças axiais (forças que atuam no eixo da barra), que produzem alongamento uniforme ou tração na barra. Sob ação dessas forças originam-se esforços internos no interior da barra. Para o estudo desses esforços internos, considere-se um corte imaginário na seção, normal a seu eixo. Removendo-se, por exemplo, a parte direita do corpo, os esforços internos na seção considerada transformam-se em esforços externos. Supõe-se que estes esforços estejam distribuídos uniformemente sobre toda a seção transversal.

Para que não se altere o equilíbrio, estes esforços devem ser equivalentes à resultante, também axial, de intensidade P.

Quando estas forças são distribuídas perpendiculares e uniformemente sobre toda a seção transversal, recebem o nome de tensão normal, sendo comumente designada pela letra grega σ (sigma).

Pode-se ver facilmente que a tensão normal, em qualquer parte da seção transversal é obtida dividindo-se o valor da força P pela área da seção transversal, ou seja:

σ = P / A

A tensão tem a mesma unidade de pressão, que, no Sistema Internacional de Unidades é o Pascal (Pa) corresponde à carga de 1N atuando sobre uma superfície de 1m², ou seja,  Pa = N/m². Como a unidade Pascal é muito pequena, costuma-se utilizar com frequência seus múltiplos: MPa = N/mm², GPa = kN/mm², etc. Em outros Sistemas de Unidades, a tensão ainda pode-se ser expressa em quilograma força por centímetro quadrado (kgf/cm²), libra por polegada quadrada (lb/in² ou psi), etc.

Quando a barra é alongada pela força P, a tensão resultante é uma tensão de tração; se as forças tiverem o sentido oposto, comprimindo a barra, tem-se tensão de compressão.

A condição necessária para validar a equação σ = P/A é que a tensão σ seja uniforme em toda a seção transversal da barra.

O alongamento total de uma barra submetida a uma força axial é designado pela letra grega δ (delta). O alongamento por unidade de comprimento, denominado deformação específica, representado pela letra grega  ε (épsilon), é dado pela seguinte equação:

ε = δ/L, onde:

L = comprimento total da barra.

Note-se que a deformação ε é uma quantidade adimensional. É de uso corrente no meio técnico representar a deformação por uma fração percentual (%) multiplicando-se o valor da deformação específica por 10².

Diagrama tensão-deformação

As relações entre tensões e deformações para um determinado material são encontradas por meio de ensaios de tração. Nestes ensaios são medidos os alongamentos δ, correspondentes aos acréscimos de carga axial P, que se aplicarem à barra, até a ruptura do corpo-de-prova.

Obtêm-se as tensões dividindo as forças pela área da seção transversal da barra e as deformações específicas dividindo o alongamento pelo comprimento ao longo do qual a deformação é medida. Deste modo obtém-se um diagrama tensão-deformação do material em estudo.

Na região elástica as tensões são diretamente proporcionais às deformações; o material obedece a Lei de Hooke e o diagrama é linear. Obtém-se o limite de proporcionalidade, pois, a partir de tal ponto deixa de existir a proporcionalidade. Daí em diante inicia-se uma curva que se afasta da região elástica, até que em outro ponto começa o chamado escoamento.

O escoamento caracteriza-se por um aumento considerável da deformação com pequeno aumento da força de tração. Neste ponto inicia-se a região plástica.

Um outro ponto é o final do escoamento, o material começa a oferecer resistência adicional ao aumento de carga, atingindo o valor máximo ou tensão máxima, denominado limite máximo de resistência. Além deste ponto, maiores deformações são acompanhadas por reduções da carga, ocorrendo, finalmente, a ruptura do corpo-de-prova.

A presença de um ponto de escoamento pronunciado, seguido de grande deformação plástica é uma característica do aço, que é o mais comum dos metais estruturais em uso atualmente. Tanto os aços quanto as ligas de alumínio podem sofrer grandes deformações antes da ruptura. Materiais que apresentam grandes deformações, antes da ruptura, são classificados de materiais dúcteis. Outros materiais como o cobre, bronze, latão, níquel, etc., também possuem comportamento dúctil. Por outro lado, os materiais frágeis ou quebradiços são aqueles que se deformam relativamente pouco antes de romper-se, como por exemplo, o ferro fundido, concreto, vidro, porcelana, cerâmica, gesso, entre outros.

Tensão admissível

Para certificar-se de que a estrutura projetada não corra risco de ruína, levando em conta algumas sobrecargas extras, bem como certas imprecisões na construção e possíveis desconhecimentos de algumas variáveis na análise da estrutura normalmente empregam-se um coeficiente de segurança (γf), majorando-se a carga calculada. Outra forma de aplicação do coeficiente de segurança é utilizar uma  tensão admissível  (σ ou  σ adm), reduzindo a tensão calculada (σ calc), dividindo-a por um coeficiente de segurança. A tensão admissível é normalmente mantida abaixo do limite de proporcionalidade, ou seja, na região de deformação elástica do material. Assim:

σ = σ adm = σ calc / γf

Lei de Hooke

Os diagramas tensão-deformação ilustram o comportamento de vários materiais, quando carregados por tração. Quando um corpo-de-prova do material é descarregado, isto é, quando a carga é gradualmente diminuída até zero, a deformação sofrida durante o carregamento desaparecerá parcial ou completamente. Esta propriedade do material, pela qual ele tende a retornar à forma original é denominada elasticidade. Quando a barra volta completamente à forma original, diz-se que o material é perfeitamente elástico; mas se o retorno não for total, o material é parcialmente elástico. Neste último caso, a deformação que permanece depois da retirada da carga é denominada deformação permanente.

A relação linear da função tensão-deformação foi apresentada por Robert HOOKE, em 1678, e é conhecida por Lei de Hooke, definida como:

σ = Eε, onde:

σ = tensão normal
E = módulo de elasticidade do material
ε = deformação específica

O módulo de elasticidade representa o coeficiente angular da parte linear do diagrama tensão-deformação e é diferente para cada material. A lei de Hooke é valida para a fase elástica dos materiais. Por este motivo, quaisquer que sejam os carregamentos ou solicitações sobre o material, vale a superposição de efeitos, ou seja, pode-se avaliar o efeito de cada solicitação sobre o material e depois somá-los.

Alguns valores de E são mostrados abaixo. Para a maioria dos materiais, o valor do módulo de elasticidade sob compressão ou sob tração é igual.

Propriedades mecânicas típicas de alguns materiais

Aço – 78,5 kN/m³ e 200 a 210 GPa;
Alumínio – 26,9 kN/m³ e 70 a 80 GPa;
Bronze – 83,2 kN/m³ e 98 GPa;
Cobre – 88,8 kN/m³ e 120 GPa         ;
Ferro fundido – 77,7 kN/m³ e 100 GPa;
Madeira – 0,6 a 1,2 kN/m³ e 8 a 12 GPa.

Quando a barra é carregada por tração simples, a tensão axial é σ = P / A e a deformação específica é  ε = δ / L . Combinando estes resultados com a Lei de Hooke, tem-se a seguinte expressão para o alongamento da barra:

δ = PL / EA

Esta equação mostra que o alongamento de uma barra linearmente elástica é diretamente proporcional à carga e ao comprimento e inversamente proporcional ao módulo de elasticidade e à área da seção transversal. O produto EA é conhecido como rigidez axial da barra.

Coeficiente de Poisson

Quando uma barra é tracionada, o alongamento axial é acompanhado por uma contração lateral, isto é, a largura da barra torna-se menor enquanto cresce seu comprimento. Quando a barra é comprimida, a largura da barra aumenta.

A relação entre as deformações transversal e longitudinal é constante dentro da região elástica, e é conhecida como relação ou coeficiente de Poisson (v), definido como o quociente da deformação longitudinal pela deformação lateral

Esse coeficiente é assim conhecido em razão do famoso matemático francês S. D.
Poisson (1781-1840). Para os materiais que possuem as mesmas propriedades elásticas em todas as direções, denominados isotrópicos, Poisson achou  ν ≈ 0,25. Experiências com metais mostram que o valor de v usualmente encontra-se entre 0,25 e 0,35.

Se o material em estudo possuir as mesmas propriedades qualquer que seja a direção escolhida, no ponto considerado, então é denominado, material isotrópico. Se o material não possuir qualquer espécie de simetria elástica, então é denominado material anisotrópico. Um exemplo de material anisotrópico é a madeira, pois, na direção de suas fibras a madeira é mais resistente.

Forma geral da Lei de Hooke

Considerou-se anteriormente o caso particular da Lei de Hooke, aplicável a exemplos simples de solicitação axial.

Se forem consideradas as deformações longitudinal (εL) e transversal (εt), tem-se, respectivamente:

εL = σ / E e εt = νεL = υσ / E

A lei de Hooke é válida para materiais homogêneos, ou seja, aqueles que possuem as mesmas propriedades (mesmos E e ν) em todos os pontos.

Estruturas estaticamente indeterminadas

Nos exemplos anteriores, as forças que atuavam nas barras da estrutura podiam ser calculadas pelas equações da Estática. Tais estruturas são denominadas estaticamente determinadas. Há casos, porém, em que as equações de equilíbrio fornecidas pela Estática não são suficientes para a determinação de todas as ações e reações de uma estrutura. Para essas estruturas, denominadas,  estruturas estaticamente indeterminadas,  as forças e a reações só poderão ser calculadas se as deformações forem levadas em conta.

Supõe que uma barra esteja carregada por uma força P no ponto C e as extremidades AB da barra estejam presas em suportes rígidos. As reações Ra e Rb aparecem nas extremidades da barra, porém suas intensidades não podem ser calculadas apenas pelas equações da Estática. A única equação fornecida pelo equilíbrio estático é:

Ra + Rb = P, a qual contém ambas as reações desconhecidas (2 incógnitas), sendo, portanto, insuficiente para seu cálculo com uma única equação. Há necessidade, portanto, de uma segunda equação, que considere as deformações da barra.

Para a consideração da deformação na barra, deve-se analisar o efeito de cada força sobre a barra se uma de suas extremidades estivesse livre. Considere-se, então, o efeito da carga P deslocando o ponto A, na estrutura livre. O deslocamento (para baixo) do ponto A, devido ao encurtamento do trecho CD, submetido à carga P, é dado por:

δ P = Pb / EA

Em seguida, analisa-se o efeito da reação Ra deslocando do ponto A. Note-se que se está analisando o efeito da reação Ra com a extremidade A da barra livre. O deslocamento (para cima) é dado por:

δ R = RaL / EA

Ora, como a extremidade A da barra é fixa, o deslocamento final (δ), neste ponto, resultante da ação simultânea das forças P e Ra, é nulo. Logo:

δ R − δ P = 0 → δ P = δ R, ou seja:

Pb / EA = RaL / EA, logo:

Ra = Pb / L

Tensões iniciais e tensões térmicas

Quando uma estrutura é estaticamente determinada, a variação uniforme da temperatura em todo seu comprimento não acarreta nenhuma tensão, pois a estrutura é capaz de se expandir ou se contrair livremente. Por outro lado, a variação de temperatura em estruturas fixas, estaticamente indeterminadas, produz tensões em seus elementos, denominadas tensões térmicas. Esta conclusão pode ser observada pela comparação entre uma barra livre em uma das extremidades, com outra barra engastada nas duas extremidades. A variação uniforme de temperatura sobre toda a barra causará o alongamento:

δ = αL∆T, onde: 

α = coeficiente de dilatação térmica
L = comprimento
∆T = variação de temperatura (ºC)

Como este alongamento pode ocorrer livremente, não surgirá nenhuma tensão na barra.
Logo abaixo estão indicados coeficientes de dilatação térmica de alguns materiais.

Valores típicos do coeficiente de dilatação térmica

Aço – 11,7.10-6 º C-1;
Alumínio – 21,4 a 23,9.10-6 º C-1;
Magnésio – 26,1.10-6 º C-1;
Cobre – 16,7.10-6 º C-1;
Concreto – 7,2 a 12,6.10-6 º C-1;

No caso de barras estaticamente indeterminadas, quando há aumento de temperatura, a barra não pode alongar-se, surgindo, como consequência, uma força de compressão que pode ser calculada pelo método descrito no item precedente. Para a barra engastada, vê-se que, se a extremidade A for liberada, seu deslocamento para cima, devido ao acréscimo de temperatura, será o mesmo deslocamento para baixo, decorrente da ação da força R, ou seja, RL / EA. Igualando esses dois deslocamentos vêm:

R = EAα∆T.

Deste exemplo, conclui-se que a variação de temperatura produz tensões em sistemas estaticamente indeterminados, ainda que não se tenha a ação de forças externas.

Tensão de cisalhamento

Denomina-se força cortante (V), a componente de uma força, contida no plano da seção transversal considerada. A força cortante é uma força que atua no próprio plano da seção transversal. A outra componente é a força normal.

A força cortante dá lugar, em cada um dos pontos da seção, ao aparecimento de uma tensão tangencial, denominada tensão de cisalhamento, designada pela letra grega τ. Admitindo-se distribuição uniforme da tensão de cisalhamento na seção transversal de área A, tem-se, em cada ponto da seção:

τ = V / A

A tensão de cisalhamento, como a tensão normal, tem também a mesma unidade de pressão a qual, no Sistema Internacional é o Pascal (Pa).
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Vídeo sobre membros carregados axialmente: estruturas estaticamente indeterminadas, na aula de Mecânica dos Sólidos I, curso de engenharia Civil da UESPI.



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