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domingo, 10 de junho de 2012

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO



A Avaliação Pós-Ocupação é o diagnóstico de desempenho dos espaços construídos e indica-se diretrizes a serem adotadas nos novos projetos.

Introdução

Avaliação Pós-Ocupação (APO) é um processo sistematizado e rigoroso de avaliação de edifícios, passado algum tempo de sua construção e ocupação, visando detectar problemas construtivos, ergonômicos, estéticos e de conforto numa edificação já em uso. Utilizando ferramentas específicas da APO, um escritório é capaz de propor soluções que minimizem estes problemas, melhorando o ambiente de trabalho e proporcionando maior conforto aos usuários. A APO focaliza os ocupantes do edifício e suas necessidades, a partir das quais elabora insights sobre as consequências das decisões de projeto no desempenho da edificação. Este procedimento constitui-se na base para a criação de edifícios melhores no futuro.

Tradicionalmente, as pesquisas na área têm como meta a avaliação de aspectos técnicos, funcionais e comportamentais da edificação, o que inclui uma pesquisa acerca dos aspectos construtivos (estabilidade, estanqueidade, materiais e técnicas utilizados, e similares), das condições de conforto ambiental (temperatura, insolação, ventilação natural, acústica, iluminação natural), do consumo energético, entre outros, além de observação dos fatores funcionais que correspondem ao estudo da dimensão dos ambientes, dos fluxos de pessoas, materiais, etc., das possibilidades de realizar as atividades previstas, do desempenho organizacional e da acessibilidade.

A APO transparece e de certa forma evidencia a importância que a qualidade dos  ambientes exerce no bem estar das pessoas, seja no trabalho, em casa ou nos espaços públicos que compõem as nossas cidades. Possibilitamos assim, de forma clara e evidente, situações que favorecem o exercício profissional na busca por soluções coerentes, duradouras, racionalizadas e que prezam pelo aumento da qualidade de vida dos usuários.

Método avaliativo da APO

O desempenho dos edifícios é avaliado, diariamente, de forma inconsciente e não explícita, podendo ser conduzida através de questionários, entrevistas e observações controladas. Nos questionários, são abordados junto aos usuários temas como conforto, adequação de layout, ergonomia, acessibilidade, etc. Os dados são tabulados em forma de gráficos e as necessidades, ou as áreas mais críticas, são detectadas; a partir da análise destes dados, as soluções são propostas. Quando, em um determinado ambiente, são ouvidas conversas e ruídos de outros ambientes, a performance acústica do recinto está sendo avaliada. Da mesma forma, a temperatura do recinto, a qualidade da iluminação natural/artificial, do mobiliário, dos acabamentos e a visão do exterior através das aberturas, são avaliadas informalmente. Enquanto esperamos um elevador, podemos julgar o tempo de espera. Os critérios de avaliação usados neste caso são originados em expectativas que são baseadas em situações vivenciadas.

Em um mercado cada vez mais competitivo, a meta do fabricante ou do projetista passa a ser a criação de produtos com desempenhos que atendam às expectativas de mercado, com preços acessíveis e que apresentem o mínimo possível de defeitos. Neste sentido, a APO pretende analisar a performance dos edifícios, através da comparação sistematizada e rigorosa dos resultados, segundo critérios de desempenho pré-estabelecidos. As diferenças evidenciadas possibilitam a avaliação.

Em função dos objetivos do cliente e do tempo necessário, a APO possibilita a adoção de melhorias a curto, médio e longo prazo:

·      Melhorias de curto prazo – a possibilidade de identificar e solucionar e problemas
nos diversos sistemas/serviços, aperfeiçoar o uso do espaço interno e feedback da performance do edifício, otimizar as atitudes dos ocupantes do edifício, através do seu envolvimento efetivo no processo de avaliação, conhecer a influência das modificações ditadas pela redução dos custos na performance do edifício, informar  decisões tomadas e melhorar a compreensão das consequências das decisões projetuais na performance do edifício.
 
·      Melhorias de médio prazo – flexibilidade e facilidade de adaptação às modificações
organizacionais e crescimento contínuo, incluindo reciclagem de serviços/sistemas para novos usos; redução significativa nos custos de construção e de manutenção do ciclo vital do edifício; acompanhamento permanente da performance do edifício, por profissionais e usuários;

·      Melhorias a longo prazo – aperfeiçoamentos na performance a longo prazo do
edifício; otimizar dados de projeto, padrões, critérios,  e produção de literatura técnica; otimizar e quantificar as medições de performance do edifício.

Planejamento, controle e melhoramento

A APO ainda é um campo de trabalho em processo de amadurecimento e, em breve, deverá ser incorporada ao processo produtivo dos edifícios, da mesma forma que a atividade de programação tem sido considerada um passo fundamental da etapa de pré-projeto.          

A crise econômica, a elevação dos preços da energia elétrica e dos serviços de manutenção, e o aumento do nível de exigência dos usuários, contribuem para o surgimento de uma nova mentalidade que valoriza a qualidade e a eficiência, onde a determinação das necessidades dos clientes passa a ser uma das principais variáveis do processo de produção de bens e serviços, baseando-se agora nos conceitos de qualidade expressos pela trilogia Juran: "a gerência para a qualidade é feita utilizando-se os mesmos três processos gerenciais de planejamento, controle e melhoramento".

Neste contexto, a APO pode tornar-se um eficiente instrumento no desenvolvimento do produto (edifício) e também do seu processo (projeto). Através do conhecimento prévio do padrão cultural – necessidades dos clientes (proprietários e usuários) declaradas e reais, percebidas ou mesmo atribuíveis a usos inesperados – e da identificação antecipada dos níveis de satisfação pretendidos pelo cliente com o produto; através do estudo comportamental, não será difícil identificar suas insatisfações, suas mudanças de hábitos, ou até mesmo as suas fontes de necessidades.  

Uma ferramenta importante para assegurar que o projeto está atingindo seus objetivos é a pesquisa posterior à intervenção, quando, também através de questionários, podemos medir a satisfação dos usuários com relação ao projeto implantado e realimentar um próximo projeto com novos dados. Esta pesquisa permite monitorar de forma eficiente o cumprimento dos objetivos propostos.  

APO no Brasil

No Brasil, a fase de produção do edifício é razoavelmente bem conhecida, mas a visão sistêmica do processo parece ainda incompleta, na medida em que existem poucas pesquisas voltadas à fase de uso, operação e manutenção, o que faz com que seja reduzida a vida útil destes ambientes construídos, pela ausência, desde o projeto, desse tipo de análise preventiva. Além disso, ocorre a repetição de falhas em projetos futuros de edifícios semelhantes, devido à ignorância dos fatos ocorridos em ambientes já em uso.

Notamos que esta relação poderia, ou melhor, deveria fomentar pesquisas direcionadas aos níveis de atendimento às questões de funcionalidade e conforto promovido pelo ambiente construído, já que ainda não existe no Brasil homogeneidade nem sistematização, em termos de controle de qualidade pelo qual deveria passar o produto, em suas partes e no seu todo.

Tal contexto, característico do nosso meio urbano, reduz a vida útil do ambiente construído e deteriora as relações humanas no espaço. Este círculo vicioso poderia ser rompido, na medida em que se procurasse conhecer essas edificações, tanto no ponto de vista técnico, quanto do ponto de vista dos usuários.

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