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domingo, 13 de maio de 2012

LINGUAGEM VISUAL


Linguagem visual é a criação de uma imagem para comunicar uma ideia. A linguagem americana de sinais é um exemplo de linguagem visual.

Problematizando o campo

Para melhor definir o objeto da pesquisa, proponho uma tentativa de conceituar o campo da linguagem visual. Nossa intenção é apontar algumas das contribuições ao campo, sem pretensão de esgotar o assunto.

Acreditamos que a formação da ideia de apreciação espontânea e de sensibilidade inata está baseada no modo peculiar como nossa cultura encara o ato de ver.

A primeira experiência pela qual passamos, ainda quando crianças, no processo de aprendizagem acontece pela consciência tátil. Além desse conhecimento, incluem-se nesse processo o olfato, a audição e o paladar, proporcionando-nos um intenso contato com o meio ambiente no qual estamos inseridos. Esses sentidos são rapidamente intensificados pela visão – capacidade de ver, reconhecer e compreender, em termos visuais, os fenômenos que nos cercam.

O processo da visão requer de nós pouca ação, pois os mecanismos fisiológicos são automáticos no sistema nervoso do homem. Não nos espanta o fato de que, a partir da visão, recebemos uma enorme quantidade de informações, de todas as maneiras e em diversos níveis. Praticamente, desde nossa primeira experiência no mundo, passamos a organizar nossas necessidades e nossos prazeres, nossas preferências e nossos temores, com base naquilo que vemos ou que queremos ver. É impossível definir com exatidão a importância que o sentido visual exerce sobre nossa vida. Nós o aceitamos sem nos darmos conta de que ele pode ser aperfeiçoado ou ampliado até se converter num incomparável instrumento de conhecimento humano.

O perigo de pensarmos que todas as ações da visão são naturais e atuam sem esforço, e que, por isso mesmo, não precisamos estudá-las nem aprender como efetuá-las, nos leva a esquecer de que qualquer imagem visual, realizada pelo homem, é influenciada pelos condicionamentos culturais e pelo ambiente em que ela foi produzida. Ver envolve algo mais do que o ato da percepção espontânea, pois é também ato sociocultural, parte integrante do processo de cultura que  abrange várias das considerações relativas à vida social.

Essa discussão tem mais sentido se pensarmos no seguinte fato: o mundo moderno produziu uma revolução importante com a invenção, difusão e novas possibilidades de reprodutibilidade mecânica, eletrônica e computacional da imagem trazendo fortes transformações no modo de vida das sociedades. Com respeito à reprodutibilidade, as técnicas de reprodução são, todavia, um fenômeno novo, de fato, que nasceu e se desenvolveu no curso da história, mediante saltos sucessivos, separados por longos intervalos, mas num ritmo cada vez mais rápido.

Com a litografia (gravura em pedra), as técnicas de reprodução marcaram um progresso decisivo, porque esse processo permitiu, pela primeira vez, que as artes gráficas pudessem entregar-se ao comércio de imagens em série.

Decorridas poucas décadas após o aparecimento da litografia, o surgimento da fotografia, em 1826, viria superar todas as possibilidades anteriores de reprodução das imagens. A partir dos processos fotográficos até as possibilidades infográficas de hoje, a produção e reprodução de imagens puderam se efetuar num ritmo cada vez mais acelerado.

Essas transformações nos colocam a seguinte questão: sabemos que com o aperfeiçoamento da imprensa e as possibilidades de multiplicação da escrita, a partir do século XV, houve um forte desenvolvimento e expansão da linguagem escrita que possibilitou, ao longo dos últimos séculos, que as sociedades ocidentais atingissem um alto grau de alfabetismo verbal. Para que sejamos considerados verbalmente alfabetizados, é preciso que tenhamos aprendido os componentes básicos da linguagem escrita: as letras, as palavras, a ortografia, a gramática, a sintaxe e a semântica. Dominando a leitura e a escrita, o que podemos expressar com esses elementos é ilimitado. Uma vez dominando a técnica, podemos produzir uma infinita variedade de soluções para os problemas da comunicação verbal, como também podemos criar um estilo pessoal. No plano social, o alfabetismo verbal significa que um grupo compartilha o significado atribuído a um corpo comum de informações, podendo ser alcançado num nível simples de realização e compreensão de mensagens escritas, e podemos caracterizá-lo como um instrumento.

Se a difusão da tipografia possibilitou o alfabetismo verbal, sem dúvida a invenção e a popularização dos meios mecânicos de produção da imagem que não cessam de se desenvolver neste século, colocam em discussão o “alfabetismo visual”, ou seja, a capacidade de ler e de se expressar na linguagem visual.

Durante o século XX, assistimos a uma transformação significativa nos meios de comunicação modernos: a mensagem visual tem predominado sobre a mensagem verbal, e a maior parte das coisas que sabemos, aprendemos, acreditamos, reconhecemos e desejamos quase sempre é determinada pelo domínio que a imagem exerce sobre nós.

Contudo, apesar de tais transformações, propor a leitura ou a interpretação da imagem, pode parecer suspeito na maioria das vezes e provocar reticências sob vários aspectos.

·      Primeiro aspecto

O que dizer de uma mensagem – principalmente a figurativa, em virtude da rapidez de sua percepção visual – que aparentemente e em simultaneidade reconhece o conteúdo de uma imagem, pois este parece "naturalmente" legível? Essa primeira negação à leitura da imagem gera a ideia de uma suposta “universalidade” da imagem visual. É certo que existem, para a humanidade inteira, esquemas mentais e representativos universais, arquétipos ligados à experiência comum a todos os homens.
Entretanto, deduzir que a leitura da imagem é universal revela uma confusão de conceitos.

A confusão é frequentemente feita entre percepção espontânea e leitura/interpretação. Reconhecer esta ou aquela configuração não significa que se esteja compreendendo a mensagem da imagem, que pode ter uma significação bem particular. É patente na percepção espontânea o fato de as pessoas adotarem, para a apreensão da imagem, os mesmos esquemas sensoriais, intelectuais, realistas, funcionais e referenciais que lhes servem na vida cotidiana. Adotam o esquema realista, quando no lugar de ver nas coisas representadas um simples pretexto para um quadro, veem, sobretudo, a representação das coisas e tendem a medir a qualidade de uma imagem pela fidelidade quase fotográfica e pelo interesse anedótico próprio à coisa representada, preferindo o ilusionismo, a aparência enganadora, e rejeitando qualquer forma de abstração.

Assim, reconhecer motivos nas mensagens visuais e interpretá-los são duas operações mentais diferentes e complementares. O estudo da linguagem visual tem por objetivo, exatamente, a interpretação de possíveis significações que a “naturalidade” aparente das mensagens visuais implica. As ideias de apreciação espontânea e sensibilidade inata são perigosas porque impedem uma relação mais elaborada com a obra, esforço este que é necessário para um contato mais rico com a imagem.

·      Segundo aspecto

Ele pode ser reconhecido nas seguintes frases: o artista tinha intenção de dizer tudo isso? Será que a leitura não “deforma” a mensagem? Não seria a interpretação própria de cada receptor? Que a imagem seja uma produção consciente e inconsciente de um sujeito é um fato, que ela mobilize tanto a consciência quanto o inconsciente de um observador é inevitável; porém, interpretar uma mensagem visual, analisá-la, não consiste somente em tentar encontrar uma mensagem preexistente, mas em compreender o que essa mensagem provoca de significações no momento em que se está com a imagem, ao mesmo tempo em que se deve separar o que é leitura pessoal do que é coletiva.

·      Terceiro aspecto

Refere-se à imagem artística. É nos dito que qualquer leitura seria equivocada, porque a arte não seria da ordem da inteligência, mas da do afetivo e do emotivo. Esse pensamento tem como pressuposto que o campo da arte é considerado bem mais dependente da expressão do que da comunicação. Ora, enquanto a obra de arte permaneceu anônima, isso indicava que ela estava a serviço de uma religião ou de uma política e, portanto, sempre interagindo com o contexto social do qual é parte integrante.

Mesmo assim, dentro desse quadro existem controvérsias sobre a imagem visual ser ou não uma linguagem. A postura de que a imagem não é uma linguagem toma como referência a linguagem verbal, enquanto sistema fixo e abstrato.

Teoria de Langer

O conceito de “ação simbólica” da obra de arte constitui o núcleo fundamental das várias elaborações teóricas de Langer, que entende a imagem artística como criação de formas simbólicas do sentimento humano. A imagem artística consiste, portanto, em uma comunicação através de símbolos não discursivos e, por isso, indivisíveis, ao contrário da linguagem verbal, que funciona através de símbolos discursivos convencionais referentes ao mundo.

A imagem, para Langer, não é uma linguagem no sentido de um sistema de comunicação que se constrói com elementos, cada um possuindo sua própria significação independente, como no caso das palavras. A arte, no pensamento da autora, é “apresentativa” e não, representativa, e seus símbolos repetem alguns esquemas da vida afetiva, porque simbolizam essencialmente aspectos do sentimento. Assim, a imagem, principalmente a arte, é um símbolo que não simboliza outra coisa senão a si mesma, mas que reproduz, na própria forma visual, a estrutura ou padrão do sentimento e da emoção. A imagem artística permite conceituações, mas não funciona como uma linguagem, porque é articulação de um sentimento e não, de um pensamento. Ela estabelece uma relação de comunicação com o público num sentido não estrito. Sendo simbólica e, portanto, não discursiva, o apreciador responde a ela encontrando o seu significado em um sentimento. Vejamos o que diz a autora:

“... – o conceito de arte como um tipo de ‘comunicação’. Ele apresenta seus perigos porque, com base numa analogia com a linguagem, espera-se naturalmente que a ‘comunicação’ seja entre o artista e sua audiência, o que creio ser uma noção enganosa. Mas existe algo que pode, sem o perigo de excessiva literalidade, ser chamado de “comunicação pela arte”’, a saber, o informe que as artes fazem de uma época ou nação às pessoas de outra. Nenhum registro histórico poder-nos-ia contar em um milhar de páginas a mente egípcia quanto uma visita a uma exposição representativa da arte egípcia [...]. Nesse sentido, a arte é uma comunicação, mas não é pessoal nem deseja ansiosamente ser entendida.” (LANGER, 1980)”.

A linguagem verbal aqui enfocada é sucessora da tradição que vê a linguagem como um sistema abstrato, formal, independente de seu uso. Considera-se, portanto, que a significação é totalmente subordinada e determinada pelo funcionamento do sistema linguístico. Nessa tradição, uma das características da linguagem é possuir “equivalências fixas” e “unidades permanentes de significação”. Nesse sentido, a autora afirma:

“A fotografia, portanto, não tem vocabulário. O mesmo é obviamente verdadeiro com respeito à pintura, ao desenho etc. Existe, sem dúvida, uma técnica de pintar objetos, mas a lei que governa a referida técnica não pode chamar-se propriamente de
“sintaxe”, pois não existem quaisquer itens que possam ser denominados, metaforicamente, as “palavras” da retratação. “Uma vez que não temos palavras, não pode haver dicionário de significados para linhas, sombreados ou outros elementos da técnica pictórica.” (LANGER, 1971).

Observe-se que o modelo de linguagem verbal que serve de parâmetro para as concepções de Langer acerca da linguagem é extremamente limitado, não sendo adequado para a compreensão quer do uso da língua nas interações cotidianas, quer das demais linguagens.

Os teóricos seguidores dessa linha de pensamento estudam a linguagem verbal considerando válido apenas o estudo daquilo que é sistemático e invariável, que não se desenvolve no tempo e que permanece relativamente fixo, sendo, portanto, possível de ser descrito por meio de regras e de “dicionários de significados”. Contudo, tendências mais recentes no campo da linguística tomam como objeto de estudo a linguagem em uso, tornando centrais o contexto e a intenção e colocando em pauta, entre outras questões, os processos de compreensão, interpretação e negociação do sentido, explicitando, inclusive, o papel dos conhecimentos de mundo e das inferências na significação. Nesse quadro, considera-se a linguagem como essencialmente ambígua e indeterminada, de modo que a significação não se esgota no próprio funcionamento do sistema linguístico abstrato, embora, sem dúvida, deste dependa.

Conhecendo a linguagem visual, estaremos em melhores condições para analisar e compreender, em maior profundidade, uma das ferramentas efetivamente predominantes na comunicação contemporânea: a imagem visual.

Teorias da linguagem visual

Ainda predomina a ideia difusa de que as imagens visuais, principalmente as artísticas, constituem um domínio exclusivo da intuição subjetiva e pertencem mais ao terreno da expressão do que ao da comunicação. Somente mais recentemente tem sido discutido que na verdade, a imagem visual é produto de um saber extremamente complexo, do qual temos, infelizmente, um conhecimento muito reduzido. A maioria dos educadores ligados às artes plásticas, principal campo produtor de imagens visuais até o século passado, herdou uma devoção de vivenciar a arte através do fazer, de uma maneira não intelectualizada. Essa herança, recebida na prática de ateliê, está presente no universo das artes visuais (escola, mercado de arte, senso comum) há algum tempo.

A visão da arte como expressão dos sentimentos surgiu com o Romantismo, movimento artístico do final do século XVIII e da primeira metade do século XIX, na Europa. 

O Romantismo teve como característica o abandono dos ideais clássicos da razão, da ordem e da harmonia, em favor da valorização da emoção, da imaginação e da hegemonia da sensibilidade, postulando que antes de compreender é preciso sentir. O sentimento constitui, no pensamento romântico, a grande mola propulsora não apenas da arte, mas da própria humanidade. Para o Romantismo, a mais pura espontaneidade é a força que gera a criação genial, produzida por um dom natural ou inato. Valorizando o culto ao gênio e à livre-expressão, esse movimento iniciou a mistificação de que a atividade artística independe totalmente de uma ação pedagógica, pois tal atitude depende da inspiração. Ainda hoje, no sentido comum, arte é “expressão”, “emoção”, “prazer”, “sentimento”.

Nos tempos modernos ou pós-românticos, a teoria da expressão assumiu a forma modificada de que o artista deveria ser capaz de representar pelo meio que escolheu o sentimento interior, a qualidade subjetiva experimentada em situações emocionais reais, recordadas ou imaginadas, que não poderiam ser transmitidas pela linguagem comum. E, assim, definia-se a arte como uma linguagem das emoções. A moderna teoria passou a afirmar que as boas obras de arte eram aquelas que possuíam maior precisão na expressão das emoções, confirmando que o conteúdo da obra, a mensagem ou o que ela diz, está intimamente ligado à forma que não poderia ser expressa de outro modo.
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Vídeo bastante interessante, estabelece a diferença entre linguagem verbal e visual, criados pelos Comunicadores na Web.


Um comentário:

  1. Esse é um assunto que realmente não fica apenas em gestos com mãos...
    Mas é mais abrangente do que muitos pensam!!!

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