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sábado, 17 de março de 2012

ESTUDOS SOCIAIS E AMBIENTAIS



Os Estudos Sociais e Ambientais analisam e interpretam os processos de urbanização e de formação dos assentamentos urbanos, instrumentalizam os alunos no uso de conceitos, recursos e ferramentas de análise de informações geográficas, particularmente em questões urbanas, sociais e ambientais.

As cidades

As perguntas básicas que nos esquecemos de fazer ao planejar, porque julgamos que a resposta é obvia são: o que é uma cidade? O que é a cidade que pretendemos assumir a responsabilidade de planejar?

As cidades estão na ordem do dia, não por suas qualidades que são muitas, mas pela coleção de problemas que acumulam. Violência urbana, marginalidade, invasões, favelização e trânsito são assuntos recorrentes na imprensa, sempre com a indispensável presença de autoridades e especialistas dando explicações inexplicáveis e ditando soluções mágicas.

Mesmo na voz de urbanistas e especialistas em trânsito, o planejamento é apresentado frequentemente como um instrumento mágico, que para gerar uma cidade feliz depende apenas do correto acerto entre variáveis correlatas em um jogo de decisões lógicas.

De fato, o enfoque para a elaboração de um Plano Diretor baseia-se em um enfoque sistêmico, que deve considerar a influência mutua e a integração de todos os elementos envolvidos no processo de planejamento urbano, que devem ser equacionados, avaliados e integrados por um processo lógico na tomada de decisões.

Decisões baseadas em um cuidadoso levantamento e uma criteriosa análise em bases científicas dos dados disponíveis, para construir o diagnóstico que fundamentará o Plano.

Entretanto, o conhecimento da cidade a planejar é mais do que isto, mais do que tabelas, gráficos e projeções: também é necessário e tão importante como conhecimento e domínio técnico – intuição e sensibilidade do planejador para o universo de coisas que não estão sujeitas a manipulação por algoritmos lógicos. Imaginação, espírito solidário, humildade e amor pelo trabalho também ajudam.

A alma irracional das cidades

Uma cidade tem vida própria, mas a sua alma é irracional – a alma coletiva do povo. Os rituais urbanos e os comportamentos de sua população não estão sujeitos a controle estrito de mecanismos lógicos e técnicos, não obedecem a previsões e não vivem em cenários futuros. São identificados, mas voláteis; podem ser objeto de estatísticas, mas não possuem média ponderada.

Constituem campo da tradição, de usos e costumes locais e de forças movidas por interesses e preferências de grupos ou indivíduos. Para complicar, as pessoas são influenciadas por fatores econômicos e sociais que extrapolam a área dos municípios e vão além do alcance do planejamento urbano como nos entendemos. Nenhuma cidade é uma ilha social ou economicamente.

O urbanismo e a arquitetura são produtos do cérebro humano e como tal, refletem a sua enorme complexidade. Entretanto, a nossa mente, ainda arcaica – impulsiva e emotiva – não tão racional como orgulhosamente imaginamos, se posta perplexa frente ao universo que concebeu, mas para o qual não foi preparada ao longo da evolução.

Evoluímos durante três milhões de anos em um ambiente muito diferente do atual, que começamos a construir a menos de 10.000 anos.

No desafio em sobreviver em um ambiente nem sempre amigável, e isto inclui não apenas as ásperas paisagens de um passado remoto, mas também nossas modernas cidades, o Homem criou para se defender o confronto entre a dura realidade e a fantasia e, para ir além de suas necessidades, pretendeu colocar seu espírito no patamar dos deuses.

Julga-se senhor da Terra, não costuma abandonar seus desejos e, se não chegou ao paraíso, construiu obras dignas das divindades, embora a um preço excessivamente alto em sofrimento, degradação e miséria, para a uma parte significativa dos membros de sua espécie e para o ambiente.

As cidades são espaços rituais e de interação, são bases físicas para o comportamento e ação humanas. Podem reunir as pessoas ou afastá-las, tornar estranhos em amigos ou contribuir para criar seres solitários.

As cidades não são estruturas físicas neutras: influenciam e induzem o comportamento e a sensibilidade humana e funcionam movidas pelo espírito de seus usuários impregnado na pedra, pavimento e espaço.

Falo aqui do nosso cliente desconhecido, o componente irracional que ignoramos em nossas propostas: os habitantes das cidades que pretendemos favorecer com nossos planos. Ao qual adicionamos, por pertencerem à mesma espécie: os arquitetos e urbanistas, os administradores públicos e a classe política.

Este aspecto irracional – por ser impulso e emoção – se manifesta em vários aspectos da vida urbana, nas decisões dos urbanistas e dos administradores públicos, mas é presente na vida de todos nos de forma explícita e constante no trânsito.

É provável que não tenhamos meios eficazes de conhecer melhor as pessoas, senão pela convivência, observação e fofocas, o que é dificultado pelo fato de não vivermos nas cidades que planejamos, mas nada impede que possamos vir a tecer considerações a respeito e procurar pistas indiretas sobre a forma como as pessoas vivem e usufruem a cidade.

Noção de Psicologia Ambiental

Estudos de Psicologia Ambiental – a disciplina que estuda a interação entre os seres humanos e os espaços que utiliza – nos dão indicações das necessidades básicas das pessoas que poderiam ser supridas por uma cidade bem planejada. Curiosamente necessidades que não são diferentes daquelas de nossos ancestrais pré-históricos.

Aprendemos com a disciplina que o ambiente é um gerador de expectativas, que afetivamente se traduzem pelas necessidades sentidas pelas pessoas em relação ao seu entorno imediato, e que vão gerar comportamentos correlatos e, em contrapartida, produzir alterações nos arranjos ambientais dos espaços onde vivem, de acordo com os níveis de interação desejados pelo grupo social. Estas necessidades básicas e universais são:

·      Proteção física contra elementos agressivos do ambiente como o clima, vetores de
doenças, poluição, maus cheiros e ruídos, bem como contra riscos de acidentes que coloquem em risco a integridade do corpo. Neste aspecto lembro o risco de andar em nossas calçadas e pavimentos e os riscos sanitários a que estamos sujeitos em nossas cidades;

·      Proteção social contra a invasão da privacidade, indefinição territorial entre espaços
públicos e privados e riscos de agressões por terceiros. Neste aspecto iluminação, visibilidade e supervisão pelo grupo social dos espaços urbanos são essenciais à segurança pública. Adensamento excessivo, aglomerações ou isolamento favorecem atos antissociais.

·      Condições de conforto são qualidades desejadas pelas pessoas e que se espera de
qualquer ambiente físico, cidade ou edifício, independente de sua época ou destinação. Proteção e conforto requerem que o ambiente atenda condições adequadas de bem estar, segurança e salubridade. Conforto urbano é saneamento; cidade limpa; silencio; calçadas e pavimentos transitáveis; claridade; ventilação e serviços eficientes nos locais apropriados. Lembro que a crítica mais frequente ao sistema de transporte coletivo é a de falta de conforto, seja pela distancia dos pontos, trajeto, frequência ou pelo estado e lotação dos veículos.

·      Integração social e identificação com a cidade. Os seres humanos pertencem a uma
espécie gregária: desejam viver e participar de suas comunidades, por isto cria espaços cuja organização e paisagem favoreça a interação social dos indivíduos em seu grupo. Para isso, as relações com o espaço circundante exigem duas condições que foram essenciais aos nossos ancestrais à sua própria sobrevivência: ler o significado dos sinais expressos pelas condições particulares de um ambiente e orientar-se adequadamente no espaço e em relação a outros seres humanos.

É a forma que manifesta o ambiente, a sua aparência percebida que permite a sua leitura, que ocorre em dois níveis de interpretação:

·      A vertente utilitária ou simbólica – flui na medida em que a aparência expressa o
código com que o espaço se revela e permite que as pessoas identifiquem o ambiente e seus usuários, se orientem e definam sua posição num contexto particular. Os grupos sociais tendem a construir padrões de organização espacial para atender e abrigar as atividades das comunidades de cultura, cujas formas se tornam legíveis. Assim, casas parecem casas, igrejas parecem igrejas, escolas parecem escolas, locais seguros parecem locais seguros, etc.

·      A vertente estética – a beleza é um atributo do meio e das coisas, na medida em que
suas formas transcendem seus significados imediatos e traduzem padrões culturais mais amplos e idealizados. A beleza é a qualidade das coisas que melhor estabelece a conjunção entre a realidade sensorial e a visão cosmológica do ser humano.

Estas são necessidades sobre as quais o planejador urbano pode e deve se debruçar. A falta do atendimento destas carências abaixa a alta estima das pessoas e enfraquece a confiança da população no poder público.

Mas praticamente, o que precisamos saber sobre aqueles que são, em  última análise, os beneficiários do planejamento urbano?

Meio ambiente

É no contexto da percepção ambiental que a paisagem urbana assume um valor simbólico ou estético significativo para as pessoas e avalia medidas de preservação do meio ambiente natural, ou o que resta dele, e de bens de valor cultural para a cidade.

Neste aspecto, a vegetação constitui um elemento essencial na composição do universo ao nosso redor e à leitura que fazemos do ambiente, cuja humanidade está expressa mais pela presença da natureza no espaço urbano do que pela obra do homem na natureza.

Por esta razão torna-se necessário prever nas áreas urbanas espaços livres e vegetação, para quebrar o padrão visual das edificações que hoje homogeneízam e empobrecem a paisagem; como contraponto à crescente monotonia e feiura dos edifícios; ao emparedamento da paisagem e aos efeitos negativos do clima urbano, permitindo a democratização da luz, do sol e dos ventos.

Em nossa opinião, uma cidade ecologicamente correta, sustentável, capaz de criar ambientes urbanos potencialmente favoráveis à segurança, salubridade, conforto, bem estar e relacionamento entre seus habitantes é, necessariamente, uma cidade pouco densa e bastante vegetada.

Inclusive porque nesta configuração, terá mais condições de sustentar com eficiência a exploração de fontes de energia alternativas retiradas da força dos ventos e do sol, em um futuro próximo.

Neste quadro também se insere a preservação do patrimônio arquitetônico e cultural de uma cidade, seja como um ato de exorcismo contra mudanças - o ritual mágico contra o crescimento e o futuro incerto das cidades.

Como pode ser uma atitude romântica e afetiva em relação à paisagem conhecida e ao passado – ato de preservação de coisas com valor sentimental de um álbum de retratos. Ou simplesmente o alimento de uma paixão pelos recantos, rituais e manias da cidade ameaçada pelo progresso. Há também os que são contra, arautos do progresso a qualquer preço.

Mas sem dúvidas, as propostas de preservação devem ter uma responsabilidade com a identidade urbana e ética com a percepção dos usuários da cidade, porque ele é, por definição, o beneficiário último do planejamento. Desta forma, a proposta de preservação de bens naturais ou culturais não deve ser uma concessão sentimental do planejador e do gestor urbano, mas uma opção crítica para manter espaços e estruturas físicas úteis à cultura urbana, às funções e à identidade simbólica da cidade, a escala, à beleza e à riqueza da paisagem, bem como instrumento para impedir transformações indesejáveis ao longo do processo de desenvolvimento urbano.

Por suas implicações espaciais e econômicas, a preservação da paisagem natural e construída deve estar ligada ao processo integral do planejamento, pelo princípio que no desenvolvimento de uma cidade não existem fatos isolados.

Como parte do Plano, estas estruturas devem continuar como usufruto para a cultura local, o lazer e a contemplação, estando sujeitas como o qualquer bem urbano a questões de sustentabilidade econômica e cultural.

A elaboração de um plano setorial para o ambiente urbano deveria acompanhar o Plano Diretor, incentivando através de programas e projetos com a participação da comunidade, a melhoria da qualidade visual da paisagem urbana, o desenho de calçadas, arborização pública e em terrenos privados, controle da publicidade visual, o desenho de equipamentos e do mobiliário urbano e a restauração e a pintura de edificações preservadas e de propriedades privadas.

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