O desenho
urbano diz respeito à disposição, a aparência e funcionalidade das cidades
e, em particular a forma e utilização do espaço público, sendo uma expressão técnica e artística de
composição dos espaços urbanos.
Introdução
A
produção de uma cidade não deve ser entendida apenas pela distribuição de
edifícios ao longo de um território, criando funcionalidade e condições de
desenvolvimento econômico. O desenho urbano deve ser também o resultado da
produção voluntária do espaço, pelo qual todos os indivíduos relacionados com
ele, deixam sua marca e contribuição, obedecendo, claro, os métodos e regras
impostas pelos governantes.
Segundo
Platão, a cidade podia ser dividida em três tipos de classes: os governantes,
os guardiões e os artesãos; e, somente se mantidas essas divisões é que a
cidade poderia alcançar sua unidade harmônica e se manter. Os primeiros,
governantes, possuem o saber para legislar e governar, com a ajuda dos
guardiões, que possuem a bravura e ousadia necessária, controlando e colocando
regras e limites aos artesãos, que são os que produzem bens materiais,
estabelecendo assim a harmonia entre todos, e uma cidade mais justa possível.
O
desenho da cidade se daria então conforme esses três tipos de indivíduos,
baseado na técnica, na segurança e na função, ou seja, na racionalidade.
Outros
desenhos de cidade marcaram a vida urbana, trazendo sempre a função em primeiro
plano, como as ideias inglesas de cidades-jardim, ocorridas no final do século
XIX, buscando integrar à paisagem urbana o equilíbrio entre crescimento
econômico e os problemas sociais pelos quais passavam a sociedade. As
preocupações de integração entre cidade e campo tinham como objetivo contornar
a migração do campo, dispondo para tal um sistema de transporte público
eficiente e de cinturões verdes ao redor das cidades. Segundo Howard, “a cidade
e o campo devem estar casados, e dessa feliz união nascerá uma nova esperança,
uma nova vida, uma nova civilização”.
Howard
não pretendia privar algumas pessoas do convívio urbano, deixando-as no campo,
mas sim desejava que se controlasse o tamanho da zona urbana, para que ela
continuasse a proporcionar aos seus habitantes uma boa qualidade de vida. Para
isso, sugeria que as zonas urbanas deveriam ter um tamanho padrão de para certa
população, e, assim que esse limite fosse atingido, novos espaços deveriam
começar a ser habitados, formando outros centros urbanos. A área rural seguiria
a mesma lógica da área urbana.
Esse
pensamento estava voltado para a resolução do problema urbano, proporcionando
moradia digna para a população, em uma vida comunitária sustentável. Isso
significa que o desenho urbano influencia diretamente a vida na cidade, em sua
visão estética, como articulação de diversas funções, ou apenas como prazer e
investimento.
Desenho Urbano como definição da “polis”
Lynch
descreve em seus estudos sobre desenhos urbanos alguns modelos de formas que
poderiam definir as cidades. Faz ainda uma análise a respeito dessas formas,
incluindo seus motivos de implantação e quais os possíveis resultados, tanto
prós como contras.
Os
modelos de referência para tal estudo são os seguintes:
· Modelo estrela –
tem um centro definido onde ocorrem as principais atividades da
cidade,
e, a partir dele, irradiam as linhas para onde se desenvolve a cidade. Ao longo
desses eixos podem ocorrer alguns subcentros, agrupando então outras
atividades. É um modelo racional de cidade, bastante ocorrido espontaneamente,
quando as cidades cresciam com certo ordenamento no sentido exterior. À medida
que vai crescendo, esse modelo de cidade desenvolve então vias concêntricas,
formando cruzamentos. É um modelo que funciona bem para cidades de médio porte,
pois, a certo tempo, pode sobrecarregar o centro devido aos grandes fluxos
nesse sentido;
· Cidade satélite
– uma cidade rodeada por comunidades satélites, ou seja, dependentes
desta
principal. Segue o princípio da estrela, porém numa escala maior, e as cidades
secundárias devem ter tamanhos limitados, mantendo a eficácia pretendida.
Quando a cidade satélite chega a seu limite máximo, outra deve então começar a
ser povoada. As cidades satélites permitem a manutenção do cinturão verde ao
redor da cidade principal, garantindo, dessa forma, certa qualidade de vida
para a população envolvida;
· Cidade linear –
essa é uma concepção teórica de cidade, pois em muitos momentos
não
pode realmente ser aplicada. É baseada numa linha, com algumas paralelas, ao
longo das quais ocorrem todas as atividades urbanas. Esse modelo torna a cidade
muito extensa, com grandes dimensões lineares, e não possui um centro bem
definido, tornando muito grande as distâncias entre as diversas atividades. Por
isso esse modelo é funcional apenas para pequenas escalas;
· Cidade em grelha
retangular – a cidade é estruturada de acordo com uma malha
retangular,
dividida em blocos semelhantes, e com possível crescimento para todos os lados,
considerando que esta forma não possui fronteiras pré-definidas. Os terrenos
possuem o mesmo formato e todos os pontos possuem acessibilidade às diversas
atividades dentro da cidade;
· Rede axial
barroca – é formada por um conjunto de pontos nodais (pontos de
referência,
marcos, através dos quais as pessoas conseguem se situar dentro da cidade)
distribuídos ao longo da área urbana, geralmente localizados em pontos de
destaque no território. A área urbana é definida por uma malha triangular, onde
os edifícios podem ser implantados livremente, apenas respeitando as vias
principais e os pontos nodais. Esse modelo funciona para cidades de médio
porte, onde seja de relevante importância a localização por meio de pontos de
referência;
· Modelo
rendilhado – pode ser definido como um pequeno aglomerado, onde as vias
encontram-se
bastante espaçadas, intercalando grandes espaços, normalmente terrenos
destinados a plantações ou grandes áreas verdes. Deve se destinar
prioritariamente a ocupações de baixa densidade; dessa forma, as vias não são
sobrecarregadas. Essas áreas podem ser definidas como semirrurais, uma forma de
transição entre o meio rural e o urbano;
· Cidade interior
– é uma cidade delimitada por muralhas, extremamente protegida do
meio
externo. Vias principais conduzem as vias locais que, por sua vez, levam a
becos de menos dimensão até chegar a edificações e terrenos privados. Tudo
possui um controle rígido, podendo até mesmo ter acesso restrito a certos
pontos;
· Cidade em ninho
– a cidade é idealizada com anéis concêntricos, definidos por
muralhas,
que vão crescendo uns ao redor dos outros. Ao centro está o local mais sagrado,
normalmente o templo religioso, e a população de menor renda situa-se nas
partes periféricas. As vias principais situam-se paralelas aos muros, as vias
de ligação são menores e nem sempre contínuas, criando ambientes descontínuos,
tanto em relação à paisagem quanto em relação aos espaços e atividades urbanas;
Visões atuais sobre o Desenho Urbano
Há
várias formas de cidades sendo estudadas ultimamente, pretendendo reavaliar os
padrões de ocupação do território urbano. Uma dessas novas formas é conhecida
como megaforma, onde a cidade se realiza como uma única estrutura com vasto
território ocupado e grande densidade. As habitações e comércios em geral são
concentrados em grandes edifícios, como um setor autossustentável, com áreas
verdes localizadas em terraços e coberturas. Essa proposta mostra-se eficaz no
que diz respeito à ocupação com parcimônia do território, mas pode se tornar
desagradável para quem a utiliza e requer muitos recursos para construção e
manutenção.
Alguns
outros teóricos sugeriram cidades envoltas por grandes bolhas transparentes,
permitindo a passagem de luz, protegendo contra as intempéries e proporcionando
o controle total do clima local. Alguns problemas, porém, ficaram sem solução,
como o grande custo necessário para tal, o controle da poluição interna e a
adaptação da população para o convívio em tal ambiente.
Outra
forma de viver também foi motivo de estudo, como a possível concepção de
cidades flutuantes, acontecendo sobre oceanos e extraindo, destes, alimentos e
demais necessidades de sobrevivência, porém ainda sem maiores estudos de
viabilidade.
De
forma parecida encontram-se as comunidades subterrâneas ou subaquáticas. É
sabido que esse tipo de comunidade difere muito dos preceitos com os quais a
população está acostumada, as cidades propriamente ditas; porém não podem ser
tidas como impossíveis. Apenas necessitariam de mudanças nos padrões com os
quais estamos acostumados a conviver a séculos.
Nos
anos 1970, o desenho urbano sofreu grande revisão perante o que era então
praticado. Inseriu-se uma preocupação com a forma urbana, ao mesmo tempo em que
novos conceitos e métodos entravam em discussão.
As
cidades atuais, porém, guardam heranças dos preceitos previstos na Carta de
Atenas. A proposição da cidade funcional definia como funções básicas para
esta: habitar, trabalhar, recrear e circular, frente à considerada
obsolescência do tecido urbano então existente.
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