A Avaliação
Pós-Ocupação é o diagnóstico de desempenho dos espaços construídos e indica-se diretrizes
a serem adotadas nos novos projetos.
Introdução
Avaliação
Pós-Ocupação (APO) é um processo sistematizado e rigoroso de avaliação de edifícios,
passado algum tempo de sua construção e ocupação, visando detectar problemas
construtivos, ergonômicos, estéticos e de conforto numa edificação já em uso.
Utilizando ferramentas específicas da APO, um escritório é capaz de propor
soluções que minimizem estes problemas, melhorando o ambiente de trabalho e
proporcionando maior conforto aos usuários. A APO focaliza os ocupantes do
edifício e suas necessidades, a partir das quais elabora insights sobre as consequências
das decisões de projeto no desempenho da edificação. Este procedimento
constitui-se na base para a criação de edifícios melhores no futuro.
Tradicionalmente, as
pesquisas na área têm como meta a avaliação de aspectos técnicos, funcionais e
comportamentais da edificação, o que inclui uma pesquisa acerca dos aspectos
construtivos (estabilidade, estanqueidade, materiais e técnicas utilizados, e
similares), das condições de conforto ambiental (temperatura, insolação,
ventilação natural, acústica, iluminação natural), do consumo energético, entre
outros, além de observação dos fatores funcionais que correspondem ao estudo da
dimensão dos ambientes, dos fluxos de pessoas, materiais, etc., das
possibilidades de realizar as atividades previstas, do desempenho
organizacional e da acessibilidade.
A
APO transparece e de certa forma evidencia a importância que a qualidade
dos ambientes exerce no bem estar das pessoas, seja no trabalho, em casa
ou nos espaços públicos que compõem as nossas cidades. Possibilitamos assim, de
forma clara e evidente, situações que favorecem o exercício profissional na
busca por soluções coerentes, duradouras, racionalizadas e que prezam pelo
aumento da qualidade de vida dos usuários.
Método avaliativo da APO
O
desempenho dos edifícios é avaliado, diariamente, de forma inconsciente e não
explícita, podendo ser conduzida através de questionários, entrevistas e
observações controladas. Nos questionários, são abordados junto aos usuários
temas como conforto, adequação de layout, ergonomia, acessibilidade, etc. Os
dados são tabulados em forma de gráficos e as necessidades, ou as áreas mais
críticas, são detectadas; a partir da análise destes dados, as soluções são propostas.
Quando, em um determinado ambiente, são ouvidas conversas e ruídos de outros
ambientes, a performance acústica do recinto está sendo avaliada. Da mesma
forma, a temperatura do recinto, a qualidade da iluminação natural/artificial,
do mobiliário, dos acabamentos e a visão do exterior através das aberturas, são
avaliadas informalmente. Enquanto esperamos um elevador, podemos julgar o tempo
de espera. Os critérios de avaliação usados neste caso são originados em
expectativas que são baseadas em situações vivenciadas.
Em
um mercado cada vez mais competitivo, a meta do fabricante ou do projetista
passa a ser a criação de produtos com desempenhos que atendam às expectativas
de mercado, com preços acessíveis e que apresentem o mínimo possível de
defeitos. Neste sentido, a APO pretende analisar a performance dos edifícios,
através da comparação sistematizada e rigorosa dos resultados, segundo
critérios de desempenho pré-estabelecidos. As diferenças evidenciadas
possibilitam a avaliação.
Em
função dos objetivos do cliente e do tempo necessário, a APO possibilita a
adoção de melhorias a curto, médio e longo prazo:
· Melhorias de
curto prazo – a possibilidade de identificar e solucionar e problemas
nos
diversos sistemas/serviços, aperfeiçoar o uso do espaço interno e feedback da
performance do edifício, otimizar as atitudes dos ocupantes do edifício,
através do seu envolvimento efetivo no processo de avaliação, conhecer a
influência das modificações ditadas pela redução dos custos na performance do
edifício, informar decisões tomadas e
melhorar a compreensão das consequências das decisões projetuais na performance
do edifício.
· Melhorias de
médio prazo – flexibilidade e facilidade de adaptação às modificações
organizacionais
e crescimento contínuo, incluindo reciclagem de serviços/sistemas para novos
usos; redução significativa nos custos de construção e de manutenção do ciclo
vital do edifício; acompanhamento permanente da performance do edifício, por
profissionais e usuários;
· Melhorias a
longo prazo – aperfeiçoamentos na performance a longo prazo do
edifício;
otimizar dados de projeto, padrões, critérios,
e produção de literatura técnica; otimizar e quantificar as medições de
performance do edifício.
Planejamento, controle e melhoramento
A
APO ainda é um campo de trabalho em processo de amadurecimento e, em breve,
deverá ser incorporada ao processo produtivo dos edifícios, da mesma forma que
a atividade de programação tem sido considerada um passo fundamental da etapa
de pré-projeto.
A
crise econômica, a elevação dos preços da energia elétrica e dos serviços de
manutenção, e o aumento do nível de exigência dos usuários, contribuem para o
surgimento de uma nova mentalidade que valoriza a qualidade e a eficiência,
onde a determinação das necessidades dos clientes passa a ser uma das
principais variáveis do processo de produção de bens e serviços, baseando-se
agora nos conceitos de qualidade expressos pela trilogia Juran: "a
gerência para a qualidade é feita utilizando-se os mesmos três processos
gerenciais de planejamento, controle e melhoramento".
Neste
contexto, a APO pode tornar-se um eficiente instrumento no desenvolvimento do produto
(edifício) e também do seu processo (projeto). Através do conhecimento prévio
do padrão cultural – necessidades dos clientes (proprietários e usuários)
declaradas e reais, percebidas ou mesmo atribuíveis a usos inesperados – e da
identificação antecipada dos níveis de satisfação pretendidos pelo cliente com
o produto; através do estudo comportamental, não será difícil identificar suas
insatisfações, suas mudanças de hábitos, ou até mesmo as suas fontes de
necessidades.
Uma ferramenta importante para assegurar que o projeto está atingindo seus objetivos é a pesquisa posterior à intervenção, quando, também através de questionários, podemos medir a satisfação dos usuários com relação ao projeto implantado e realimentar um próximo projeto com novos dados. Esta pesquisa permite monitorar de forma eficiente o cumprimento dos objetivos propostos.
Uma ferramenta importante para assegurar que o projeto está atingindo seus objetivos é a pesquisa posterior à intervenção, quando, também através de questionários, podemos medir a satisfação dos usuários com relação ao projeto implantado e realimentar um próximo projeto com novos dados. Esta pesquisa permite monitorar de forma eficiente o cumprimento dos objetivos propostos.
APO no Brasil
No
Brasil, a fase de produção do edifício é razoavelmente bem conhecida, mas a
visão sistêmica do processo parece ainda incompleta, na medida em que existem
poucas pesquisas voltadas à fase de uso, operação e manutenção, o que faz com
que seja reduzida a vida útil destes ambientes construídos, pela ausência,
desde o projeto, desse tipo de análise preventiva. Além disso, ocorre a
repetição de falhas em projetos futuros de edifícios semelhantes, devido à
ignorância dos fatos ocorridos em ambientes já em uso.
Notamos
que esta relação poderia, ou melhor, deveria fomentar pesquisas direcionadas
aos níveis de atendimento às questões de funcionalidade e conforto promovido
pelo ambiente construído, já que ainda não existe no Brasil homogeneidade nem
sistematização, em termos de controle de qualidade pelo qual deveria passar o
produto, em suas partes e no seu todo.
Tal
contexto, característico do nosso meio urbano, reduz a vida útil do ambiente
construído e deteriora as relações humanas no espaço. Este círculo vicioso
poderia ser rompido, na medida em que se procurasse conhecer essas edificações,
tanto no ponto de vista técnico, quanto do ponto de vista dos usuários.
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