Linguagem
visual é a criação de uma imagem para comunicar uma ideia. A
linguagem americana de sinais é um exemplo de linguagem visual.
Problematizando o campo
Para
melhor definir o objeto da pesquisa, proponho uma tentativa de conceituar o
campo da linguagem visual. Nossa intenção é apontar algumas das contribuições
ao campo, sem pretensão de esgotar o assunto.
Acreditamos
que a formação da ideia de apreciação espontânea e de sensibilidade inata está
baseada no modo peculiar como nossa cultura encara o ato de ver.
A primeira
experiência pela qual passamos, ainda quando crianças, no processo de aprendizagem
acontece pela consciência tátil. Além desse conhecimento, incluem-se nesse
processo o olfato, a audição e o paladar, proporcionando-nos um intenso contato
com o meio ambiente no qual estamos inseridos. Esses sentidos são rapidamente
intensificados pela visão – capacidade de ver, reconhecer e compreender, em
termos visuais, os fenômenos que nos cercam.
O
processo da visão requer de nós pouca ação, pois os mecanismos fisiológicos são
automáticos no sistema nervoso do homem. Não nos espanta o fato de que, a
partir da visão, recebemos uma enorme quantidade de informações, de todas as
maneiras e em diversos níveis. Praticamente, desde nossa primeira experiência
no mundo, passamos a organizar nossas necessidades e nossos prazeres, nossas
preferências e nossos temores, com base naquilo que vemos ou que queremos ver.
É impossível definir com exatidão a importância que o sentido visual exerce
sobre nossa vida. Nós o aceitamos sem nos darmos conta de que ele pode ser
aperfeiçoado ou ampliado até se converter num incomparável instrumento de conhecimento
humano.
O
perigo de pensarmos que todas as ações da visão são naturais e atuam sem esforço,
e que, por isso mesmo, não precisamos estudá-las nem aprender como efetuá-las,
nos leva a esquecer de que qualquer imagem visual, realizada pelo homem, é influenciada
pelos condicionamentos culturais e pelo ambiente em que ela foi produzida. Ver
envolve algo mais do que o ato da percepção espontânea, pois é também ato sociocultural,
parte integrante do processo de cultura que
abrange várias das considerações relativas à vida social.
Essa
discussão tem mais sentido se pensarmos no seguinte fato: o mundo moderno
produziu uma revolução importante com a invenção, difusão e novas possibilidades
de reprodutibilidade mecânica, eletrônica e computacional da imagem trazendo
fortes transformações no modo de vida das sociedades. Com respeito à
reprodutibilidade, as técnicas de reprodução são, todavia, um fenômeno novo, de
fato, que nasceu e se desenvolveu no curso da história, mediante saltos sucessivos,
separados por longos intervalos, mas num ritmo cada vez mais rápido.
Com
a litografia (gravura em pedra), as técnicas de reprodução marcaram um
progresso decisivo, porque esse processo permitiu, pela primeira vez, que as
artes gráficas pudessem entregar-se ao comércio de imagens em série.
Decorridas
poucas décadas após o aparecimento da litografia, o surgimento da fotografia,
em 1826, viria superar todas as possibilidades anteriores de reprodução das
imagens. A partir dos processos fotográficos até as possibilidades infográficas
de hoje, a produção e reprodução de imagens puderam se efetuar num ritmo cada
vez mais acelerado.
Essas
transformações nos colocam a seguinte questão: sabemos que com o aperfeiçoamento
da imprensa e as possibilidades de multiplicação da escrita, a partir do século
XV, houve um forte desenvolvimento e expansão da linguagem escrita que possibilitou,
ao longo dos últimos séculos, que as sociedades ocidentais atingissem um alto
grau de alfabetismo verbal. Para que sejamos considerados verbalmente
alfabetizados, é preciso que tenhamos aprendido os componentes básicos da
linguagem escrita: as letras, as palavras, a ortografia, a gramática, a sintaxe
e a semântica. Dominando a leitura e a escrita, o que podemos expressar com
esses elementos é ilimitado. Uma vez dominando a técnica, podemos produzir uma
infinita variedade de soluções para os problemas da comunicação verbal, como
também podemos criar um estilo pessoal. No plano social, o alfabetismo verbal
significa que um grupo compartilha o significado atribuído a um corpo comum de
informações, podendo ser alcançado num nível simples de realização e compreensão
de mensagens escritas, e podemos caracterizá-lo como um instrumento.
Se
a difusão da tipografia possibilitou o alfabetismo verbal, sem dúvida a invenção
e a popularização dos meios mecânicos de produção da imagem que não cessam de
se desenvolver neste século, colocam em discussão o “alfabetismo visual”, ou
seja, a capacidade de ler e de se expressar na linguagem visual.
Durante
o século XX, assistimos a uma transformação significativa nos meios de
comunicação modernos: a mensagem visual tem predominado sobre a mensagem
verbal, e a maior parte das coisas que sabemos, aprendemos, acreditamos, reconhecemos
e desejamos quase sempre é determinada pelo domínio que a imagem exerce sobre
nós.
Contudo,
apesar de tais transformações, propor a leitura ou a interpretação da imagem,
pode parecer suspeito na maioria das vezes e provocar reticências sob vários
aspectos.
· Primeiro aspecto
O
que dizer de uma mensagem – principalmente a figurativa, em virtude da rapidez
de sua percepção visual – que aparentemente e em simultaneidade reconhece o
conteúdo de uma imagem, pois este parece "naturalmente" legível? Essa
primeira negação à leitura da imagem gera a ideia de uma suposta
“universalidade” da imagem visual. É certo que existem, para a humanidade
inteira, esquemas mentais e representativos universais, arquétipos ligados à
experiência comum a todos os homens.
Entretanto,
deduzir que a leitura da imagem é universal revela uma confusão de conceitos.
A
confusão é frequentemente feita entre percepção espontânea e leitura/interpretação.
Reconhecer esta ou aquela configuração não significa que se esteja compreendendo
a mensagem da imagem, que pode ter uma significação bem particular. É patente
na percepção espontânea o fato de as pessoas adotarem, para a apreensão da imagem,
os mesmos esquemas sensoriais, intelectuais, realistas, funcionais e referenciais
que lhes servem na vida cotidiana. Adotam o esquema realista, quando no lugar
de ver nas coisas representadas um simples pretexto para um quadro, veem,
sobretudo, a representação das coisas e tendem a medir a qualidade de uma
imagem pela fidelidade quase fotográfica e pelo interesse anedótico próprio à
coisa representada, preferindo o ilusionismo, a aparência enganadora, e
rejeitando qualquer forma de abstração.
Assim,
reconhecer motivos nas mensagens visuais e interpretá-los são duas operações
mentais diferentes e complementares. O estudo da linguagem visual tem por objetivo,
exatamente, a interpretação de possíveis significações que a “naturalidade” aparente
das mensagens visuais implica. As ideias de apreciação espontânea e sensibilidade
inata são perigosas porque impedem uma relação mais elaborada com a obra,
esforço este que é necessário para um contato mais rico com a imagem.
· Segundo aspecto
Ele
pode ser reconhecido nas seguintes frases: o artista tinha intenção de dizer
tudo isso? Será que a leitura não “deforma” a mensagem? Não seria a interpretação
própria de cada receptor? Que a imagem seja uma produção consciente e
inconsciente de um sujeito é um fato, que ela mobilize tanto a consciência quanto
o inconsciente de um observador é inevitável; porém, interpretar uma mensagem visual,
analisá-la, não consiste somente em tentar encontrar uma mensagem preexistente,
mas em compreender o que essa mensagem provoca de significações no momento em
que se está com a imagem, ao mesmo tempo em que se deve separar o que é leitura
pessoal do que é coletiva.
· Terceiro aspecto
Refere-se
à imagem artística. É nos dito que qualquer leitura seria equivocada, porque a
arte não seria da ordem da inteligência, mas da do afetivo e do emotivo. Esse
pensamento tem como pressuposto que o campo da arte é considerado bem mais
dependente da expressão do que da comunicação. Ora, enquanto a obra de arte
permaneceu anônima, isso indicava que ela estava a serviço de uma religião ou
de uma política e, portanto, sempre interagindo com o contexto social do qual é
parte integrante.
Mesmo
assim, dentro desse quadro existem controvérsias sobre a imagem visual ser ou
não uma linguagem. A postura de que a imagem não é uma linguagem toma como
referência a linguagem verbal, enquanto sistema fixo e abstrato.
Teoria de Langer
O
conceito de “ação simbólica” da obra de arte constitui o núcleo fundamental das
várias elaborações teóricas de Langer, que entende a imagem artística como
criação de formas simbólicas do sentimento humano. A imagem artística consiste,
portanto, em uma comunicação através de símbolos não discursivos e, por isso, indivisíveis,
ao contrário da linguagem verbal, que funciona através de símbolos discursivos
convencionais referentes ao mundo.
A
imagem, para Langer, não é uma linguagem no sentido de um sistema de comunicação
que se constrói com elementos, cada um possuindo sua própria significação
independente, como no caso das palavras. A arte, no pensamento da autora, é
“apresentativa” e não, representativa, e seus símbolos repetem alguns esquemas
da vida afetiva, porque simbolizam essencialmente aspectos do sentimento.
Assim, a imagem, principalmente a arte, é um símbolo que não simboliza outra
coisa senão a si mesma, mas que reproduz, na própria forma visual, a estrutura
ou padrão do sentimento e da emoção. A imagem artística permite conceituações,
mas não funciona como uma linguagem, porque é articulação de um sentimento e
não, de um pensamento. Ela estabelece uma relação de comunicação com o público
num sentido não estrito. Sendo simbólica e, portanto, não discursiva, o
apreciador responde a ela encontrando o seu significado em um sentimento.
Vejamos o que diz a autora:
“...
– o conceito de arte como um tipo de ‘comunicação’. Ele apresenta seus perigos
porque, com base numa analogia com a linguagem, espera-se naturalmente que a
‘comunicação’ seja entre o artista e sua audiência, o que creio ser uma noção enganosa.
Mas existe algo que pode, sem o perigo de excessiva literalidade, ser chamado
de “comunicação pela arte”’, a saber, o informe que as artes fazem de uma época
ou nação às pessoas de outra. Nenhum registro histórico poder-nos-ia contar em
um milhar de páginas a mente egípcia quanto uma visita a uma exposição
representativa da arte egípcia [...]. Nesse sentido, a arte é uma comunicação,
mas não é pessoal nem deseja ansiosamente ser entendida.” (LANGER, 1980)”.
A
linguagem verbal aqui enfocada é sucessora da tradição que vê a linguagem como
um sistema abstrato, formal, independente de seu uso. Considera-se, portanto,
que a significação é totalmente subordinada e determinada pelo funcionamento do
sistema linguístico. Nessa tradição, uma das características da linguagem é
possuir “equivalências fixas” e “unidades permanentes de significação”. Nesse
sentido, a autora afirma:
“A
fotografia, portanto, não tem vocabulário. O mesmo é obviamente verdadeiro com
respeito à pintura, ao desenho etc. Existe, sem dúvida, uma técnica de pintar
objetos, mas a lei que governa a referida técnica não pode chamar-se
propriamente de
“sintaxe”,
pois não existem quaisquer itens que possam ser denominados, metaforicamente,
as “palavras” da retratação. “Uma vez que não temos palavras, não pode haver
dicionário de significados para linhas, sombreados ou outros elementos da
técnica pictórica.” (LANGER, 1971).
Observe-se
que o modelo de linguagem verbal que serve de parâmetro para as concepções de
Langer acerca da linguagem é extremamente limitado, não sendo adequado para a
compreensão quer do uso da língua nas interações cotidianas, quer das demais
linguagens.
Os
teóricos seguidores dessa linha de pensamento estudam a linguagem verbal
considerando válido apenas o estudo daquilo que é sistemático e invariável, que
não se desenvolve no tempo e que permanece relativamente fixo, sendo, portanto,
possível de ser descrito por meio de regras e de “dicionários de significados”.
Contudo, tendências mais recentes no campo da linguística tomam como objeto de
estudo a linguagem em uso, tornando centrais o contexto e a intenção e colocando
em pauta, entre outras questões, os processos de compreensão, interpretação e
negociação do sentido, explicitando, inclusive, o papel dos conhecimentos de
mundo e das inferências na significação. Nesse quadro, considera-se a linguagem
como essencialmente ambígua e indeterminada, de modo que a significação não se
esgota no próprio funcionamento do sistema linguístico abstrato, embora, sem
dúvida, deste dependa.
Conhecendo
a linguagem visual, estaremos em melhores condições para analisar e
compreender, em maior profundidade, uma das ferramentas efetivamente
predominantes na comunicação contemporânea: a imagem visual.
Teorias da linguagem visual
Ainda
predomina a ideia difusa de que as imagens visuais, principalmente as
artísticas, constituem um domínio exclusivo da intuição subjetiva e pertencem
mais ao terreno da expressão do que ao da comunicação. Somente mais
recentemente tem sido discutido que na verdade, a imagem visual é produto de um
saber extremamente complexo, do qual temos, infelizmente, um conhecimento muito
reduzido. A maioria dos educadores ligados às artes plásticas, principal campo
produtor de imagens visuais até o século passado, herdou uma devoção de
vivenciar a arte através do fazer, de uma maneira não intelectualizada. Essa
herança, recebida na prática de ateliê, está presente no universo das artes
visuais (escola, mercado de arte, senso comum) há algum tempo.
A
visão da arte como expressão dos sentimentos surgiu com o Romantismo, movimento
artístico do final do século XVIII e da primeira metade do século XIX, na
Europa.
O
Romantismo teve como característica o abandono dos ideais clássicos da razão,
da ordem e da harmonia, em favor da valorização da emoção, da imaginação e da hegemonia
da sensibilidade, postulando que antes de compreender é preciso sentir. O sentimento
constitui, no pensamento romântico, a grande mola propulsora não apenas da
arte, mas da própria humanidade. Para o Romantismo, a mais pura espontaneidade
é a força que gera a criação genial, produzida por um dom natural ou inato.
Valorizando o culto ao gênio e à livre-expressão, esse movimento iniciou a
mistificação de que a atividade artística independe totalmente de uma ação pedagógica,
pois tal atitude depende da inspiração. Ainda hoje, no sentido comum, arte é
“expressão”, “emoção”, “prazer”, “sentimento”.
Nos
tempos modernos ou pós-românticos, a teoria da expressão assumiu a forma
modificada de que o artista deveria ser capaz de representar pelo meio que
escolheu o
sentimento interior, a qualidade subjetiva experimentada em situações emocionais
reais, recordadas ou imaginadas, que não poderiam ser transmitidas pela linguagem
comum. E, assim, definia-se a arte como uma linguagem das emoções. A moderna
teoria passou a afirmar que as boas obras de arte eram aquelas que possuíam maior
precisão na expressão das emoções, confirmando que o conteúdo da obra, a mensagem
ou o que ela diz, está intimamente ligado à forma que não poderia ser expressa
de outro modo.
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Vídeo
bastante interessante, estabelece a diferença entre linguagem verbal e visual,
criados pelos Comunicadores na Web.
Esse é um assunto que realmente não fica apenas em gestos com mãos...
ResponderExcluirMas é mais abrangente do que muitos pensam!!!