A Economia é o estudo que consiste na produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
Introdução
O
sistema urbano do Brasil é marcado pela convivência de dois grupos distintos. Duas
nações, dois Estados organizados de maneira distinta. Nas cidades brasileiras,
extrema pobreza mora lado a lado da concentração de riqueza. O crescimento
populacional brasileiro dos próximos 50 anos será em sua totalidade. Isto
significa que as três esferas de governo devem procurar alargar a capacidade de
gestão das cidades a fim de melhorar a qualidade de vida dos atuais e futuros
moradores.
Dentre
as medidas a serem adotadas pelos gestores públicos, destacamos: aumentar a
qualidade e oportunidade de emprego, fornecer condições de moradia mais
adequadas, elaborar sistemas de informações para a eficiência de políticas
públicas de prevenção e maior eficácia e amplitude na provisão de serviços
públicos.
A
gestão das cidades exerce um papel primordial neste cenário de crescimento
populacional intenso nas cidades. O aprofundamento dos problemas urbanos seria
uma das consequências de uma potencial má gestão, em que a maioria da população
continuará vivendo em moradias inadequadas, sem direito de propriedade, sem
provisão de serviços públicos, sem acesso a amenidades básicas e expostas à
marginalidade e a áreas de risco de saúde pública. Vamos analisar alguns dos
principais problemas urbanos brasileiros: crescimento econômico, favelas e
criminalidade. Esses aspectos estão relacionados com a desigualdade de acesso
vivida por grande parcela da população das cidades.
Crescimento pró-pobre e distribuição de
renda das capitais dos Estados brasileiros
Crescimento
econômico é o objetivo precípuo de diversas políticas públicas. No entanto,
experiências e evidências empíricas apontam que nem sempre o crescimento
econômico ocorre concomitantemente a uma melhor distribuição de renda. Ao
contrário, o crescimento de algumas nações vem acompanhado de uma piora da
distribuição de ativos e, como resultado, do acesso a oportunidades.
O
aumento do bem-estar agregado e a geração de renda e emprego devem atingir toda
a parcela da população. Este é o argumento central por trás da concepção e
melhoramento de políticas, porém nem sempre posto em prática e/ou alcançado. Em
algumas regiões o crescimento acompanhado pela distribuição de renda é ainda
mais decisivo. A título de ilustração, a região Nordeste possui, aproximadamente,
um quarto da população brasileira e 50% dos pobres do Brasil. Neste cenário, o
crescimento econômico com a redução da desigualdade de renda acarretaria
benefícios amplificados. A instabilidade social presente em muitas regiões do
Brasil seria atenuada via um crescimento com qualidade.
Este
trabalho visa a fornecer evidências sobre o perfil de crescimento do sistema
urbano do Brasil, representado no presente caso pelas capitais dos estados brasileiros.
Por perfil de crescimento entende-se o quanto o crescimento econômico favoreceu
o crescimento de renda da parcela menos abastada da população.
Neste
contexto, o conceito de crescimento pró-pobre é o utilizado. O crescimento
econômico é tido como pró-pobre se houver um aumento da renda dos mais pobres
acima da elevação da renda média. Um crescimento econômico do tipo pró-pobre
pode ser visto como um instrumento efetivo de distribuição de renda e de
redução da pobreza.
Divide-se
o crescimento pró-pobre em quatro categorias:
· pró-pobre, em
que o crescimento da renda domiciliar per capita média dos pobres é
superior
ao aumento da renda domiciliar per capita média;
· não pró-pobre,
em que o aumento da renda da população menos abastada dá-se a
uma
taxa inferior ao crescimento da renda média;
· empobrecedor, em
que um crescimento econômico positivo é acompanhado por uma
redução
na renda per capita média dos pobres;
· inconclusivo, isto
é, um padrão de crescimento econômico que não se enquadra em
nenhuma
das três categorias apresentadas anteriormente.
Estimação da perda de produção devido a
mortes por causas externas nas cidades brasileiras
As
mortes por causas violentas compõem um quadro absolutamente dramático no Brasil
e, consequentemente, representam uma questão de primeira grandeza para as
políticas públicas. Apenas em 2001, mais de 120 mil pessoas foram vitimadas.
Tal questão é particularmente grave em relação à população de jovens entre 15 e
29 anos, cujos óbitos por causas violentas representaram 50,9% do total das
mortes nessa faixa etária.
Entender
com maior profundidade esta questão é um elemento crucial para fundamentar
políticas efetivas. Especificamente para homicídios, nos últimos 25 anos houve
um aumento de médio anual de 5,6% no número de registros, o que posicionou o
país entre os mais violentos do planeta, com uma taxa de 28 homicídios para
cada cem mil habitantes. Nesse período, ocorreram 794 mil assassinatos. Diante
dessa marcha acelerada da violência letal no país desde 1980, não cabe afirmar
que se trata de uma explosão súbita de criminalidade, mas sim de uma tragédia
anunciada, cujos incidentes evoluem com regularidade estatística espantosa, em
um verdadeiro processo endêmico, tendo em vista a sua generalização espacial e
temporal, bem como a presença de um conjunto de fatores estruturais e locais
que alimenta essa dinâmica criminal.
Aponta-se
basicamente três fatores para explicar a degradação das condições de segurança
pública no Brasil:
· carência de
recursos;
· inexistência de
tecnologias e métodos eficazes de prevenção e controle do crime;
· ausência de real
interesse em resolver a questão, tendo em vista
a possível perda
de status quo para determinados grupos sociais.
Os
dois primeiros fatores sozinhos não seriam capazes de explicar a
hipercriminalidade brasileira, se examinados à luz de inúmeras experiências bem
sucedidas em vários países desenvolvidos e emergentes, que conseguiram diminuir
a criminalidade.
Uma análise espacial: o crescimento
econômico
O crescimento
e urbanização das cidades brasileiras nas últimas décadas agravaram a situação
dos moradores das cidades. As políticas públicas realizadas até então não
tiveram impactos suficientes para dirimir os conflitos sociais adversos.
Existem exceções, isto é, casos de sucesso como, por exemplo, Diadema (SP) na
redução da criminalidade e Belo Horizonte (MG) na melhoria de condições de vida
dos habitantes em favelas. Sem confiscação, ainda resta uma grande lacuna para
políticas públicas com o objetivo central de redução dos problemas urbanos
encontrados em todas as regiões do Brasil.
Entre
as várias implicações do crescimento econômico no país estão as alterações no
padrão de desigualdade nacional/regional, no fluxo migratório de pessoas de
áreas estagnadas para outras mais dinâmicas, com efeitos sobre o mercado de
trabalho e a despesa pública.
Para
captar as inter-relações entre todos esses elementos trataremos do crescimento
econômico comparado entre municípios dos Estados de Alagoas e Minas Gerais, do
padrão de desigualdade nacional, do fluxo migratório, do mercado de trabalho
rural e da demanda por serviços públicos locais. Há variáveis que determinam as
taxas de crescimento da renda do trabalho por habitante dos municípios
alagoanos e mineiros, com até 50 mil habitantes, entre 1991 e 2000.
Os
principais resultados do estudo mostram que os determinantes do crescimento
econômico dos municípios de um estado relativamente rico (Minas Gerais) são
distintos daqueles de um estado relativamente pobre (Alagoas), seja por
diferenças nos níveis de produtividade e qualidade de vida seja por distintos fatores
idiossincráticos de cada região.
Evolução da desigualdade socioeconômica
O
Brasil desponta como um dos países com maior desigualdade social, econômica e
regional. Essas desigualdades revelam-se por inúmeros indicadores, como renda,
escolaridade, acesso aos serviços de saúde, habitação, saneamento, transporte,
comunicação, etc. Políticos e economistas concordam que a redução das desigualdades
é uma das principais, se não a principal, política para elevar o bem-estar da
sociedade brasileira. No entanto, ainda não existe consenso sobre quais são as
políticas mais eficientes para concretizar esse objetivo.
De
acordo com as previsões de convergência condicional da renda da teoria neoclássica
de crescimento econômico, alguns economistas acreditam que as diferenças
regionais de renda no Brasil explicam-se pelas características dos indivíduos, principalmente
pelo baixo nível de capital humano das pessoas residentes nas regiões
brasileiras mais pobres. Estes defendem que o aumento no nível educacional das
pessoas mais pobres é suficiente para equalizar os salários reais entre as
regiões brasileiras, pois as pessoas podem migrar para regiões que pagam
maiores salários reais e o capital deve migrar para regiões com oferta de mão
de obra qualificada mais barata.
Entretanto,
trabalhos empíricos recentes têm confirmado novos modelos de crescimento que
supõem que, além da educação, o capital geográfico afeta a produtividade
marginal do trabalho e do capital. Tal fato fortalece o argumento de que território
é um fator importante para explicar as diferenças regionais de renda no Brasil
e que políticas educacionais não são suficientes em reduzir essas diferenças.
Migração e diferenciais de renda: teoria
e evidências empíricas
É
bastante divulgada a tese de que, no Brasil, o processo de concentração
geográfica da produção e da renda em algumas regiões não se configura como uma
nova tendência da economia brasileira, mas está imbricado com a história do desenvolvimento
econômico do país e se associa ao processo de industrialização. O argumento
mais comum é que esse processo não é determinístico nem linear. Nem tampouco é
recente a reflexão – no Brasil e no mundo – sobre a possibilidade e tendência
de concentração espacial da atividade econômica.
Sugere-se
que há três grandes grupos de argumentos teóricos que procuram explicar a
especialização e a concentração regional das atividades econômicas. O primeiro,
relacionado à teoria tradicional do comércio internacional, em que a
especialização regional da atividade econômica é uma consequência das vantagens
comparativas provenientes da abundância de fatores de produção disponíveis na
região. O segundo grupo associa a existência de concentração regional à
presença de retornos crescentes de escala, combinada com custos de transporte,
e à presença de economias de aglomeração. Já o terceiro grupo toma por base a
abordagem marshallina com relação às externalidades (efeito transbordamento).
Certamente,
o padrão de desenvolvimento regional é determinado pelo nível de concentração
dos fatores de produção. A distribuição espacial desses fatores também depende
do padrão de desenvolvimento da região. Há um aspecto circular que determina
quanto a oferta de bens e serviços influencia preços e salários que, por sua
vez, influenciam a oferta de mão de obra. É o mercado de bens e serviços
interagindo com o mercado de trabalho que, juntos, distinguem o desenvolvimento
de uma região.
Nesse
contexto, a migração de trabalhadores ocupa um papel importante e é considerado
fundamental no mecanismo de ajuste do processo de desenvolvimento econômico.
Avaliação econômica dos fundos
constitucionais de financiamento do Nordeste e do Norte (FNE e FNO)
Nos
últimos anos, percebe-se uma elevação na rigidez orçamentária e uma
deterioração no volume de investimento público, nesse sentido tem sido
recorrente o clamor por uma melhor qualidade e por uma aplicação mais eficaz
dos recursos públicos. No entanto, apesar da evolução técnica do Tribunal de
Contas da União, órgão externo ao poder executivo federal e responsável pela
avaliação da eficácia dos recursos públicos federais, o governo federal
continua aplicando seus recursos sem a devida quantificação de sua eficácia.
No
intuito de avaliar a eficácia da aplicação de uma parte dos recursos
constitucionais nas regiões menos desenvolvidas do país, este artigo apresenta
e discute os resultados obtidos na avaliação da aplicação dos recursos do Fundo
Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e do Fundo Constitucional de
Financiamento do Norte (FNO), a partir das estimativas de Propensity Score das
firmas beneficiadas com recursos desses fundos constitucionais e de um conjunto
de firmas não beneficiadas por esses fundos.
Na
análise dos resultados obtidos, é importante destacar os limites presentes na avaliação,
que estão vinculados tanto à natureza da avaliação, como à sua própria operacionalização.
Nesse sentido, cumpre ressaltar, primeiro, que as estimativas obtidas exploram
unicamente a dimensão eficácia na avaliação da aplicação dos recursos desses
fundos, isto é, referem-se aos resultados econômicos dos financiamentos, o que
é feito através do cotejo entre o desempenho econômico das firmas na situação
de beneficiadas com recursos dos fundos e o desempenho de firmas na situação de
não beneficiadas com esses recursos. Dessa forma, os resultados não contêm informações
diretas, por exemplo, a respeito da relação custo/benefício do número de
ocupações geradas pelas firmas beneficiadas.
Uma
segunda qualificação diz respeito ao universo de firmas considerado neste
estudo que, em virtude da inexistência de um conjunto de informações sobre
firmas não beneficiadas com o perfil das firmas beneficiadas, ficou restrito às
firmas beneficiadas do setor formal. Em verdade, o conjunto de firmas
beneficiadas utilizadas na avaliação ficou restrito àquelas efetivamente
identificadas na RAIS (Relatório Anual de Informações Sociais) para os períodos
analisados. Assim, principalmente por esse motivo, os resultados apresentados
representam efetivamente uma avaliação parcial da eficácia da aplicação dos
recursos do FNE e do FNO.
Essa
última qualificação condicionou a escolha das variáveis de impacto/desempenho
da avaliação, que ficaram restritas à taxa de variação do número de empregados
das firmas e à taxa de variação do salário médio pago pelas firmas, variáveis
passíveis de registro e acompanhamento anual a partir da RAIS. Esta, contudo, é
uma limitação menos séria que aquela representada pelo universo do setor
formal, uma vez que são variáveis que devem estar presentes quando os objetivos
de aplicação dos recursos direta ou indiretamente estão relacionados com a
elevação da renda regional.
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Assista
a essa entrevista realizada pelo Jornal da Globo, onde diz que o problema da
economia brasileira é a educação.