O fracionamento de terras é o processo de divisão dessas terras em lotes
Introdução
Este
artigo faz uma abordagem dos efeitos do excessivo fracionamento das terras que
conformam as unidades de produção agrícolas sobre a sustentabilidade dos sistemas
de produção praticados pelos agricultores. O parcelismo é um fenômeno que se
origina principalmente da constituição de unidades de produção com formatos territoriais
inadequados, ou seja, com um formato muito estreito e demasiadamente longo, e
da fragmentação de seu território, ou seja, a conformação de unidades de produção
com parcelas isoladas. Trata-se de um processo típico de regiões de agricultura
familiar e seus efeitos podem ser de ordem econômica, social e ambiental.
Apresentação
do problema
No
contexto atual, a sociedade requer cada vez mais que o processo produtivo agrícola
seja sustentável, garanta a oferta alimentar no presente e preserve os recursos
naturais para as gerações futuras. A noção de sustentabilidade postula que a construção
do conhecimento tecnológico se dê através de situações específicas da realidade,
como forma de produzir “respostas” adequadas às condições singulares.
Assim,
em nível dos sistemas de produção, torna-se fundamental que as propostas de
desenvolvimento considerem as reais condições das unidades de produção, isto é:
os meios de produção disponíveis, como terra, mão de obra, máquinas e
equipamentos; as condições agroecológicas do meio; e a racionalidade econômica
da unidade de produção (os objetivos do agricultor e sua família).
Em
relação ao fator terra (meio de produção) as discussões em âmbito nacional têm
enfatizado a quantidade e a qualidade das terras que as unidades de produção dispõem
para o processo produtivo. A influência do formato dessas terras (a forma geométrica
das terras) sobre os resultados dos sistemas de produção tem sido praticamente
negligenciada nas discussões e propostas que visam promover o desenvolvimento
sustentável.
Uma
unidade de produção agrícola é geralmente pluri-parcelária, agrupa parcelas
(glebas) de tamanhos e formatos diferentes e, por vezes, isoladas uma das outras.
O excesso do fracionamento do espaço agrícola em parcelas (o parcelismo) é um
processo característico de regiões com larga tradição em agricultura familiar e
com unidades de produção relativamente pequenas. É um fenômeno que se origina principalmente
de duas situações: da constituição de unidades de produção com formatos
territoriais inadequados, ou seja, com um formato muito estreito e demasiadamente
longo e da fragmentação do território, ou seja, a conformação de parcelas
isoladas.
As
unidades de produção com a forma das terras demasiadamente longas e estreitas
ocorrem com frequência em regiões onde o processo de ocupação do solo ocorreu
mediante a divisão dos lotes de forma retangular. No caso brasileiro este processo
se verifica nas regiões de colonização europeia, conformadas por pequenas unidades
familiares. O fracionamento desses lotes é decorrente, na maioria dos casos, do
processo de sucessão ou de venda de parte das terras, que acaba resultando em uma
divisão das terras em lotes estreitos e demasiadamente longos. A opção por este
formato de lote está associada à localização dos rios e riachos e das estradas
que permitem o acesso aos lotes (a "testada"). O fracionamento em
lotes menores que o módulo rural é legalmente contornado mediante o artifício
do condomínio rural.
Já
a fragmentação das parcelas, definida pelo Banco Mundial como sendo o processo
de dispersão geográfica das terras das propriedades, é resultado da pressão demográfica
que força os agricultores a buscarem terras adicionais mais longe de suas instalações,
através de compra ou arrendamento.
Embora
sejam dois fenômenos distintos, pois o desenho de um formato inadequado da
unidade de produção não a torna necessariamente mais fragmentada, são
originários do mesmo fenômeno que torna as unidades menores: a pressão demográfica.
A
definição da unidade econômica básica na agricultura
· A confusão entre
os termos e conceitos existentes
A confusão
existente entre sociólogos e economistas em torno dos conceitos que definem a
célula econômica básica na agricultura, resulta em mal-entendidos sobre a
situação da agricultura. Confusão, que para os autores, não é só acadêmica,
pois estes conceitos são objetos de inúmeras medidas de políticas agrícolas. A escolha
de um conjunto de conceitos e dos dados que descrevem uma população jamais é
neutra; ela coloca em evidência relações entre a importância numérica de diversos
grupos sociais e sua importância política. Assim, por exemplo, é frequente, nos
discursos e argumentos de certos segmentos sociais, o apoio em dados
estatísticos na defesa das políticas para o meio rural perante o conjunto da
sociedade.
Neste
sentido, discutir o conceito de célula básica na agricultura é colocar em questionamento
a maneira pela qual são selecionados os beneficiários de certas medidas.
· A construção do
conceito de unidade de produção agrícola (UPA)
A
nota explicativa aos recenseadores indicava que a UPA é um fato econômico e
técnico, entendida pelas terras e instalações que uma pessoa ou um grupo de
pessoas dispõem para produzir, seja como proprietário ou não. Em outros termos,
seria uma produção animal e/ou vegetal submetida a uma gestão única do
produtor.
O espaço
agrícola é composto por parcelas, que aparecem como unidades técnicas (o
inventário de cada parcela constitui o Cadastro). A reunião de várias parcelas
em uma mesma unidade conforma uma unidade de produção. Assim, a unidade de
produção agrícola é a submissão das parcelas a um mesmo poder de decisão
exercido por uma ou várias pessoas. Representa, então, uma unidade econômica
geralmente composta de várias parcelas.
Embora
existam variações de um país para outro, principalmente no que se refere a
dimensão mínima da unidade de produção agrícola, em geral os países europeus
compartilham da mesma concepção em relação à
unidade de produção. Como expressa a definição utilizada pelo aparelho estatístico
da CEE qual seja, uma unidade técnico-econômica, caracterizada pela utilização
em comum da mão-de-obra e dos meios de produção, submetida a uma gestão única e
produzindo produtos agrícolas.
Assim,
a separação entre a propriedade da UPA é claramente estabelecida: a UPA é definida
em função de se colocar em prática os meios de produção e não em razão da
propriedade dos meios de produção. Este movimento de separação entre a unidade
de produção e a propriedade não constitui um abordagem isolada da estatística
agrícola europeia, mas se inscreve numa evolução conjunta com os aspectos
legais.
A
partir da metade dos anos 90 constata-se de maneira geral a amplitude das transformações
que se efetuam na agricultura e no mundo rural. É inegável que uma fração
importante do orçamento familiar de muitas das tradicionais unidades de produção
se vinculam a formas novas, como é caso da agricultura em tempo parcial, do turismo,
etc. Paralelamente, as políticas agrícolas também se transformaram, a atividade
agrícola não parece mais como a política exclusiva para o meio rural.
Atualmente,
na Europa, as políticas conferem a atividade agrícola um conjunto de objetivos
para além de sua tradicional função produtiva, como a função ambiental e social,
ou seja, na gestão dos recursos naturais e na contribuição positiva da coesão intra
e inter-regional.
Os
determinantes dos rendimentos da unidade de produção agrícola
Tradicionalmente,
tem se associado o porte da unidade de produção com a sua superfície
territorial. Poderiam ser utilizados outros critérios para avaliar a dimensão
de uma unidade de produção, como o volume de produção, o volume de trabalho que
ela absorve ou ainda a quantidade de capital utilizado. Habitualmente, o
tamanho da UPA é identificado pela superfície utilizada, o que se explica pelo fato
da superfície ser um elemento relativamente estável, diferentemente do volume
de produção, que pode variar de ano a ano.
Entretanto,
em determinadas atividades, como no caso dos hortifrutigranjeiros, fica difícil
a comparação com outras unidades se a referência for a superfície de área. Não
se pode também confundir a superfície que a unidade dispõe com a sua Superfície
de Área Útil (SAU). Esta distinção pode ser fundamental quando se trata do
porte da
UPA.
Dois
conceitos são fundamentais nas discussões sobre o porte da unidade de produção:
o conceito do tamanho ótimo da unidade e do tamanho viável. Esta discussão nos remete
à crença segundo a qual a agricultura familiar, por ser em geral de pequenas
dimensões, não permitiria, em consequência, obter rendimentos comparáveis a
outros setores da atividade econômica.
O
tamanho ótimo da unidade de produção pode ser interpretado por um viés técnico
ou por um viés econômico. Do ponto de vista técnico, a unidade ótima será aquela
que obtiver os maiores rendimentos físicos por unidade de área. Do ponto de vista
econômico, o ótimo será o maior rendimento líquido por unidade de superfície.
Os dois ótimos necessariamente não coincidem, pois os elementos dos custos de produção
podem ser negligenciados pelo viés técnico.
Quais
são os fatores que poderiam nos levar a pensar, sob a perspectiva do tamanho
ótimo, que as unidades maiores teriam vantagens se comparadas às menores? Tem
se evocado três argumentos na defesa de unidades maiores.
O
primeiro se apoia nas vantagens daquilo que se chama de economia de escala.
Considera que o volume e os fatores de produção utilizados não são
independentes da escala na qual se efetua a produção. Na economia como um todo,
tem se considerado, a partir dos resultados técnicos, que a produção em grande escala
tem sido mais eficaz. Entretanto, não se tem nenhuma comprovação científica de
que na agricultura isso também seja verdadeiro, ao contrário, os estudos
realizados são céticos em relação a essa questão.
O
segundo argumento utilizado para defender a superioridade de unidades maiores
está relacionado à indivisibilidade de certos fatores de produção. A história
da agricultura revela que o tamanho da unidade de produção é revestido de uma
dimensão histórica, corresponde a um determinado estado de evolução da técnica.
Nesta perspectiva, o tamanho ideal da unidade de produção com tração animal
seria um, e ao evoluir para a motorização poderia ocorrer uma decalagem entre o
tamanho da unidade em relação a certos recursos produtivos. O exemplo citado
são as máquinas agrícolas. Por ser considerado um fator indivisível, não se
poderia utilizar, por exemplo, 1/3 do trator. Ocorreria, para a plena
utilização, uma disparidade entre os recursos produtivos em um grande número de
UPAs. Entretanto, a experiência tem demonstrado que em várias regiões agrícolas
é possível que certos recursos se adaptem ao tamanho da unidade. No caso do
trator, além da possibilidade de sua miniaturização, é também possível utilizar
uma fração do maquinário através da associação entre agricultores ou mesmo
através do aluguel de vizinhos. Assim, o argumento da indivisibilidade dos
fatores de produção tem certamente uma aporte muito reduzido na agricultura se
comparado com outros setores da economia.
O
terceiro argumento é de ordem econômica, as unidades pequenas não permitiriam a
seus titulares a obtenção de rendimentos compatíveis aos rendimentos de outros
setores. Assim, o aumento do tamanho médio da superfície de área das unidades tem
atenuado a disparidade em relação a outros setores. Mas neste aspecto, surge a
ideia do tamanho de área viável, a superfície que permite a seus titulares
obter o rendimento mínimo necessário à reprodução do agricultor e de sua família
ao longo do tempo, comparável aos rendimentos pagos por outros setores. Se o
ponto de partida é simples (um rendimento mínimo), o ponto de chegada, isto é,
a definição do tamanho viável, é extremamente complexa, porque o caráter de viabilidade,
segundo o tamanho da superfície de uma unidade, depende de inúmeros fatores.
Dependerá por exemplo, das características dos fatores de produção (como a qualidade
da terra), da natureza e do grau de intensificação da produção, do nível de eficácia
técnica e gerencial da produção, da importância das despesas com a obtenção dos
meios de produção, etc.
muito bom seu blog!! Ja estou seguindo , olha o meu e segue la se poder; http://playersgamesbrasil.blogspot.com/
ResponderExcluirOk.. vlw pela admiração..
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