A ergonomia aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho geral de um sistema.
“Bom tarde, leitores. Está é a última postagem do módulo intermediário, sábado irei propor uma série de exercícios a serem feitos até 31/03", Alex Silva.
Cenas da vida diária
Suponha
um trabalhador diante de um microcomputador: monitor, teclado, mouse, mesa, assento
formam um conjunto nem sempre harmônico. Mas a pessoa se queixa de dores
lombares, nas mãos, no pescoço. Alguém sabe explicar o porquê?
Vejamos
uma grande confecção onde a produção acontece num galpão de grande porte.
Impera
o ruído das máquinas de corte, pesponto, costura, acrescidos do calor
resultante da própria edificação e das prensas de acabamento. Os resíduos
têxteis formam uma poeira que reduz a iluminação geral obrigando a que cada
posto tenha uma iluminação local que aumenta ainda mais a contrante térmica e
compromete a qualidade do ar. O ambiente se caracteriza ainda pelo odor de
tecidos novos, alguns com muito pouco tempo de saída da tinturaria.
A
vida diária pode vir a ser muito injusta com um motorista de caminhão de
entregas, muitas vezes ofendido por pessoas que certamente ignoram que para
além do acelerar e trocar marchas, frear e estacionar, esta atividade possui
dimensões físicas como carga e descarga – dimensões mentais complexas e
urgentes como o estabelecimento de itinerários sob pressão do horário de
entrega e em face de contingências como engarrafamentos, outros caminhões de
entrega e tendo instâncias afetivas importantes, já tudo isso se dá entre
“barbeiros, navalhas e mauricinhos”, tendo ao fundo o delicioso concerto urbano
de buzinas, comentários sobre a sua masculinidade em tenor, contralto e
sopranos, tudo isso traspassado pela “suavidade diáfana” de motores desregulados
em funcionamento.
Estes
relatos acerca de situações do cotidiano pessoal ou profissional de milhares de
pessoas pelo mundo afora, revela que a atividade produtiva de homens e
mulheres, jovens e idosos, sãos ou adoentados não é tão simples como possa
parecer e que deve ser objeto de algum entendimento, de um estudo mais
elaborado. E é isso a que se propõe a Ergonomia: produzir esse entendimento
para que as mudanças possam ser feitas, os projetos mais bem elaborados e as
decisões tecnológicas melhor assentadas. A saúde das pessoas, a eficiência dos
serviços e a segurança das instalações estarão, a partir daí, sendo
efetivamente incorporadas à vida das organizações.
Definição
Ergonomia,
antes de qualquer coisa, é uma atitude profissional que se agrega à prática de uma
profissão definida. Neste sentido é possível falar de um médico ergonomista, de
um psicólogo ergonomista, de um designer ergonomista e assim por diante. Esta
atitude profissional advém da própria definição estabelecida pela Associação
Brasileira de Ergonomia, com base num debate mundial:
“A
Ergonomia objetiva modificar os sistemas de trabalho para adequar a atividade nele
existentes às características, habilidades e limitações das pessoas com vistas
ao seu desempenho eficiente, confortável e seguro”.
Esta
definição que coloca finalidades (modificar os sistemas de trabalho), propósitos
(adequar a atividade às características, habilidades e limitações das pessoas)
e critérios (eficiência, conforto e segurança) necessita ser complementada por
uma outra, que estabeleça qual a tecnologia a que a Ergonomia está referida ou
que possua um referente de suas finalidades, propósitos e critérios. Esta
tecnologia é a tecnologia de realização de interfaces entre as pessoas e os
sistemas, melhor dizendo, estabelecendo uma relação de adequação entre os
aspectos humanos presentes na atividade de trabalho e os demais componentes dos
sistemas de produção: tecnologia física, meio-ambiente, softwares, conteúdo do
trabalho e organização. Qualquer forma de interação entre o componente humano e
os demais componentes do sistema de trabalho constituir-se-á em uma interface,
sem que tenhamos necessariamente uma boa interface. As boas interfaces
(adequadas) atenderão de forma conjunta, integrada e coerente os critérios de
conforto, eficiência e segurança.
Em
sua atividade de trabalho o ser humano interage com os diversos componentes do
sistema de trabalho: com os equipamentos, instrumentos e mobiliários, formando
interfaces sensoriais, energéticas e posturais, com a organização e o ambiente
formando interfaces ambientais, cognitivas e organizacionais. O ser humano, com
seu organismo, sua mente e sua psique realiza essas interações de forma
sistêmica, cabendo à Ergonomia modelar essas interações e buscar formas de
adequação para o desempenho confortável, eficiente e seguro face às
capacidades, limitações e demais características da pessoa em atividade.
Uma disciplina útil, prática e aplicada
A
atitude profissional que caracteriza o ergonomista tem ao mesmo tempo uma dimensão
científica que traz fundamento às aplicações de uma dimensão prática que torna
essa aplicação viável no mundo da produção. A combinação das dimensões
científicas e práticas da Ergonomia revela sua utilidade como uma disciplina
que nasceu e se estabelece voltada para resolver problemas, essencialmente. A
ergonomia está, pois, exposta a dois tipos não coerentes de avaliação:
avaliação sob critérios científicos acerca de suas modelagens e formulações de
problemas do trabalho e avaliação sob critérios econômico-sociais do valor de
suas propostas de soluções.
A
superação desse duplo registro, deste paradoxo aparente está numa compreensão
da Ergonomia como disciplina útil, prática e aplicada:
· Como disciplina
útil, através de seus procedimentos de modelagem da realidade do
uso
e a incorporação de conhecimentos para a melhoria das interfaces entre os
componentes humanos e os demais constituintes do sistema de produção, a
Ergonomia tem tido bastante sucesso em tratar de problemas onde outras
abordagens têm deixado a desejar;
· Como disciplina
científica a Ergonomia através do estudo das capacidades e
limitações
e demais características humanas necessárias para o projeto de boas interfaces,
assim como busca modelar a atividade de trabalho para garantir a qualidade
operacional deste projeto. Para tanto
ela situa num cruzamento interdisciplinar entre várias disciplinas como
Fisiologia, a Psicologia, a Sociologia, a Linguística e práticas profissionais
como a Medicina do Trabalho, o Design, a Sociotécnica e as Tecnologias de Estratégia
e Organização. Toda esta interdisciplinaridade se centra no conceito de
atividade de trabalho, o verdadeiro objeto da Ergonomia;
· Como disciplina
prática a ergonomia busca encaminhar soluções adequadas aos
usuários,
operadores e à realidade das empresas e organizações onde as intervenções
ergonômicas têm lugar;
· Como disciplina
aplicada ela traz os resultados dos tratamentos científicos de
modelagem
da realidade e de levantamento do estado da arte de problema ao desenvolvimento
de tecnologia de interfaces para a concepção, análise, testagem, normatização e
controle dos sistemas de trabalho. São assuntos aplicados de Ergonomia,
portanto a concepção de sistemas de trabalho sob o ponto de vista da atividade
das pessoas que nele se integram, de produtos sob o ponto de vista de uso e
manuseio pelos adquirentes, de sistemas informatizados sob a ótica da
usabilidade (interatividade facilitada, amigabilidade, customização etc.) de
estruturas organizacionais do ponto de vista dos que nela trabalham e assim por
diante.
A
ergonomia como interdisciplinaridade interage com várias disciplinas no campo
das ciências da vida, técnicas, humanas e sociais. Seus conteúdos se orientam para
o design, arquitetura e engenharia, cuja inserção nesses quadrantes é
basicamente a mesma.
Problemas retrospectivos, prospectivos e
emergentes
Como
uma disciplina concomitantemente útil, prática e aplicada, a ergonomia é
indicada para tratar de problemas nos sistemas de produção. Empresas e
organismos diversos têm podido empregar, com muitas vantagens, os serviços dos
ergonomistas para intervir sobre estes diversos tipos de problemas com que a
produção se defronta.
Esses
problemas podem ser referentes ao histórico da empresa (retrospectivos), à
disposição para mudanças (prospectivos) ou mesmo urgentes e/ou desconhecidos
ate então (caso das emergências).
A
compreensão do que está acontecendo e que requer uma intervenção ergonômica –
ou seja, a construção de um diagnóstico ergonômico de um sistema de trabalho –
vai requerer o levantamento de problemas retrospectivos como:
· custo de doenças
ligadas ao trabalho;
· inadequação dos
postos de trabalho ou dos ambientes;
· qualidade
insatisfatória dos produtos e dos
processos de produção;
· ineficiências
dos métodos de produção, de formação, de inspeção;
· defeitos dos
produtos, com consequente perdas de mercado e aumento do nível de
reclamações
dos clientes;
· funcionamento
inadequado de equipamentos e softwares.
De
posse de um diagnóstico ergonômico é preciso agir para adequar as diferentes
interfaces. A ação ergonômica, a partir dos elementos que o diagnóstico
ergonômico lhe fornece, lida com problemas prospectivos como:
· a concepção de
novos produtos, de sistemas de produção, de novas instalações;
· as inovações nos
equipamentos: mobiliário, maquinário, instrumentos e acessórios;
· a construção da
formação de novos empregados na implantação de novas tecnologias
e/ou
novos sistemas organizacionais.
Porém
em certas passagens é necessário que o sistema de trabalho responda a situações
inusitadas e tenha a capacidade de absorver fatos novos. Assim sendo a ação ergonômica
é indicada para tratar de alguns problemas emergentes, sobretudo para gerar
cenários de simulação de situações novas e estruturar o treinamento necessário e
dali advindo.
A explosão da demanda de ergonomia
Constatamos
que, em todo o mundo, a ergonomia tem sido objeto de uma explosão de demanda,
com um número crescente de empresas solicitando consultorias e criando cargos
para ergonomistas em seus organogramas. Se nos limitarmos ao Brasil, a demanda
já ultrapassa bastante a capacidade de formação e treinamento hoje disponível
no mercado.
Cada
um de nós “opera” diariamente alguns tipos de sistema tais como: automóveis,
computadores, televisão aberta ou a cabo, telefones convencionais ou celulares.
Neste sentido, é extremamente delicado considerar os aspectos humanos destas
interfaces como solucionáveis pelo emprego de constatações de senso comum.
Muitos
responsáveis de empresas têm demandado a Ergonomia simplesmente por se tratar
da coisa certa a se fazer, até porque essas pessoas devem pensar naquilo que
seja o mais adequado para realizar os objetivos estratégicos de suas organizações.
Finalmente,
embora haja muito pouca documentação a esse respeito, até por uma falha de
formação e de sistemática de trabalho dos ergonomistas, em alguns casos tem
sido possível realizar uma avaliação do resultado das ações ergonômicas em
termos de custo-benefício. E essas avaliações têm sido muito positivas.
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Assista
a esse vídeo bastante interessante feito pela Catho Online sobre a ergonomia e
seus benefícios, melhorando a eficiência, segurança e saúde do colaborador.