ELABORAÇÃO
DE PROJETO DE UM SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
O
gráfico mostra alguns dados sobre o consumo de água na relação humana diária.
Prefácio
Este
projeto é constituído de:
· Características da comunidade;
· Previsão da população de horizonte de projeto;
· Estimativa do consumo de água;
· Memória descritiva;
· Memória de cálculo;
· Especificações técnicas;
· Orçamento.
* Os quatro últimos vimos na unidade
anterior.
Características
da comunidade
Deve conter informações sobre as
condições geopolíticas, administrativa, social e
cultural da localidade e informações
detalhadas sobre:
· Situação geográfica – localização dentro do estado ou
região; coordenadas; distância
à cidade ou aos centros
importantes; principais ligações de acesso (estrada de ferro, de rodagem;
navegação aérea, marítima e fluvial);
· Urbanismo – população; Plano Diretor, de
Desenvolvimento; projetos urbanísticos;
áreas pavimentadas; praças;
logradouros públicos; expansão territorial; loteamentos aprovados; etc.
· Situação sanitária – atendimento médico; número de
médicos e dentistas; hospitais;
clínicas; postos de saúde;
quadro de saúde da população e doenças prevalecentes; sistema de abastecimento
de água; sistema de esgoto sanitário e de águas pluviais; coleta e disposição
de lixo; poluição.
· Educação e cultura – população estudantil; número de
colégios do 1º e 2º graus;
grupos escolares;
universidades; bibliotecas.
· Energia elétrica - existência; características
(voltagem, ciclagem, etc.); custo;
disponibilidade;
confiabilidade.
· Comunicação – telefone; rádio; jornais; revistas;
correio; televisão.
· Situação econômica - produção agrícola; produção
industrial; comércio; serviços;
receita x despesa.
· Outras informações – solo (para escavação);
mão-de-obra (disponibilidade e
qualificação); material
disponível, etc.
Finaliza esta parte do projeto com uma justificativa
para a implantação do sistema
público de abastecimento.
Previsão da
população de horizonte de projeto
Crescimento populacional deveria ser definido pelos
órgãos municipais de
planejamento.
Fixado o período de tempo durante o qual o sistema de
abastecimento deverá satisfazer
faz-se o estudo da população correspondente a esse
prazo.
Na prática, são aplicados diversos processos de
previsão de população:
· Processo aritmético – a partir de valores conhecidos:
P0 e P1 correspondentes a to e
t, (referentes a dois cursos
anteriores); calcula-se o incremento populacional nesse período.
R = (P1–P0) / (t1–t0), onde:
R = incremento ou taxa de crescimento
P0 = população no tempo inicial (t0)
P1 = população no tempo (t1)
P = população no tempo futuro (t)
A população varia linearmente com o tempo e o
crescimento pressuposto é limitado.
· Processo geométrico – calcula-se a razão de
crescimento geométrico no período
conhecido.
Q = (P1 / Po)1 / (t1 – t0), onde:
q = razão do crescimento geométrico
Considera-se o logaritmo da população variando
linearmente com o tempo e o
crescimento pressuposto é ilimitado.
· Processo de curva logística – a partir dos valores das
populações P0, P1 e P2,
correspondentes a três datas
anteriores t0, t1 e t2, adota-se como curva de crescimento populacional uma
curva definida por esses três pontos e que obedeça a equação abaixo e atenda a
condição P12 > P0 . P2
P = K / [1 + (2,718)(a-bt),
onde:
2,718 = base neperiana (e)
b = razão de crescimento da população
a = valor tal que para t = a / b há uma inflexão
(mudança no sentido da curvatura) da
curva
K = limite de P (saturação da população).
Faz-se a determinação dos três parâmetros a, b e K
mediante a resolução do sistema de
três equações e três incógnitas (a, b e K), obtidos
mediante introdução de cada um.
A resolução do sistema de três equações acima fica
bastante simplificada se os três
pontos censitários forem cronologicamente
eqüidistantes.
A aplicabilidade da curva logística, entretanto, fica
na dependência de estar satisfeita a
condição: P0 . Pz < (Pi)2
Sob a hipótese da curva logística, a população cresce
assintoticamente para um valor
limite K.
· Processo comparativo – consiste no traçado de uma
curva arbitrária que se ajuste aos
dados já observados, sem se
procurar estabelecer a equação da mesma. As extrapolações ou previsões de
populações futuras obtêm-se prolongando a curva obtida, de acordo com a
tendência geral verificada, usando um julgamento próprio.
Usa-se como elemento auxiliar,
os dados de populações de outras cidades que já tenham maior número de
habitantes que a estudada, com condições sócio-econômicas semelhantes.
De acordo com a NB – 587/89,
a população futura deve ser avaliada de acordo com um dos seguintes critérios:
-
Mediante a
extrapolação de tendências de crescimento, definidas por dados
estatísticos suficientes para
constituir uma série histórica observando-se:
Ø A aplicação de modelos matemáticos (mínimos quadrados)
aos dados censitários do
IBGE, escolhendo-se como
curva representativa de crescimento futuro aquela que melhor se ajustar aos
dados censitários:
Ø As principais curvas utilizadas para ajuste pelo
método dos mínimos quadrados.
· Distribuição demográfica – área de ocupação
A distribuição da população
do projeto sobre a área atual e futura depende basicamente do Plano Diretor de
Desenvolvimento da cidade formado pela prefeitura municipal e das seguintes
condições: topografia, facilidade de expansão, terreno, planos urbanísticos e
loteamento existente, hábitos e condições sócio-econômicos da população,
critérios de serviços.
Em geral são os seguintes, os
valores médios de densidade:
-
Áreas
periféricas, casas isoladas e lotes grandes – de 25 a 50 hab./ha;
-
Casas isoladas, lotes
médios e pequenos – de 50 a 75 hab./ha;
-
Casas geminadas,
predominando um pavimento – de 75 a 100 hab./ha;
-
Casas geminadas,
predominando dois pavimentos – de 100 a 150 hab./ha;
-
Prédios de
apartamentos pequenos – de 150 a 250 hab./ha;
-
Prédios de
apartamentos altos – 250 a 750 hab./ha;
-
Áreas comerciais –
de 50 a 100 hab./ha;
-
Áreas industriais
– de 25 a 100 hab./ha;
-
Densidade global
média – de 50 a 150 hab.ha;
Estimativa do consumo de água
Os problemas de
dimensionamento das canalizações, estruturas e equipamentos implicam em estudos
diversos que incluem a verificação do consumo médio por pessoa, a estimativa do
número de habitantes a ser beneficiado e as variações de demanda que ocorrem
por motivos vários.
· Usos da água
A água conduzida para uma
cidade enquadra-se numa das seguintes classes de consumo ou de destino:
-
Doméstico – é a
água consumida nas habitações e compreende as parcelas destinadas
a fins higiênicos, potáveis e
alimentares, e à lavagem em geral. As vazões destinadas ao uso doméstico variam
com o nível de vida da população, sendo tanto maiores, quanto mais elevado for
esse padrão.
Estudos recentes apontam como
representativos para as condições atuais valores de 100 – 200 litros de água / hab.
ao dia.
Nos Estados Unidos inclui-se
na classificação de domésticos, água utilizada para irrigação de jardins.
-
Comercial –
destaca-se a parcela utilizada pelos restaurantes, bares, hotéis, pensões,
postos de gasolina e
garagens, onde se verifica um consumo muito superior aos das residências.
Ø Escritórios – 50 litros de água / pessoa ao dia;
Ø Restaurantes – 25 litros de água / refeição ao dia;
Ø Hotéis – 120 litros de água / hóspede ao dia;
Ø Hospitais – 250 litros de água / leito ao dia;
Ø Garagens – 50 litros de água / automóveis ao dia;
Ø Postos de serviços para veículos – 150 litros de água /
veículo ao dia;
Ø Lavanderias – 30 litros de água / kg de roupa.
-
Industrial – as
indústrias utilizam águas de diversas formas: como matéria prima,
lavagem, refrigeração.
Ø Indústrias (uso sanitário) – 70 litros de água / operário
ao dia;
Ø Matadouros (animais de grande porte) – 300 litros de
água / cabeça abatida;
Ø Matadouros (animais de pequeno porte) – 150 litros de
água / cabeça abatida;
Ø Laticínios – 51 litros de água / kg de produto;
Ø Curtumes – 50 a 60 litros de água / kg de couro;
Ø Fábrica de papel – 100 a 400 litros de água / kg de
papel;
Ø Tecelagem (sem alvejamento) – 10 a 20 litros de água /
kg de tecido;
-
Público –
inclui-se nesta classificação a parcela de água utilizada na irrigação de
jardins, lavagem de ruas e passeios,
edifícios e sanitários públicos, alimentação de fontes e piscinas.
-
Perdas e fugas – ocorrem
devido à má utilização da água, deficiências técnicas do
sistemas, etc.
· Consumo médio “per capita” – é expresso geralmente em
litros por habitante por dia
(l / hab. dia) e definido
por:
q = volume anual distribuído
/ 365 x população beneficiada
As condições indispensáveis
para um estudo criterioso deste parâmetro são:
-
Continuidade e
confiabilidade da medição de água aduzida e distribuída para a
cidade;
-
Abastecimento
ininterrupto, sem forçar restrições ao uso.
Os grandes consumidores
(singulares) são acrescidos ao consumo calculado pelo “per capita”.
Na elaboração de projetos
para cidades ainda não providas de qualquer sistema de distribuição, procura-se
adotar “per capita” de cidades semelhantes localizadas na mesma região. Não se
conseguindo esta condição, adota-se os valores:
-
População futura
até 10.000 hab. – 150 a 200 l / hab. dia;
-
População futura
entre 10.000 e 50.000 hab. – 200 a 250 l / hab. dia;
-
População maior
que 50.000 hab. – > 250 l / hab. dia;
-
População
temporária – 100 l / hab. dia;
-
População
flutuante – igual à permanente.
· Fatores que afetam o consumo: (consideram-se como os
mais importantes)
-
Características
da população: hábitos higiênicos, situação econômica, educação
sanitária.
-
Desenvolvimento
da cidade: a quota média diária “per capita” aumenta com o
crescimento da cidade.
-
Presença de
indústrias: tipo de indústria, zoneamento dos bairros industriais.
-
Condições climáticas:
precipitações atmosféricas, umidade do ar, temperatura.
-
Características
do abastecimento d’água: qualidade da água distribuída; pressões na
rede de distribuição; taxa de
água; modo de distribuição (serviço medido); administração do serviço.
· Variações de consumo
A água distribuída por uma
cidade não tem uma vazão constante, mesmo considerando invariável a população
consumidora. Devido à maior ou menor demanda em certas horas do período diário
ou em certos dias ou épocas do ano, a vazão distribuída sofre variações mais ou
menos apreciáveis. Também nisto, os hábitos da população e as condições
climáticas tem influência. Há, portanto variações horárias ao longo do dia e
variações diárias ao longo do ano.
-
Variações diárias
– o volume distribuído no ano dividido por 365 permite conhecer a
vazão média diária anual.
A relação entre o maior
consumo diário verificado e a vazão média diária anual forma o “coeficiente do
dia de maior consumo”, assim:
K₁ = maior consumo diário no ano / vazão média diária no
ano.
Seu valor varia entre 1,2 e
2,0 dependendo das condições locais. Utiliza-se esse coeficiente na
determinação da vazão de dimensionamento de várias partes de um sistema de
fornecimento público de água, entre os quais: obras de captação, adução,
elevatórias, reservação e estação de tratamento.
-
Variações
horárias – também no período de um dia há sensíveis variações na vazão
de água distribuída a uma
cidade, em função da maior ou menor demanda no tempo. As horas de maior demanda
situam-se em torno daquela em que a população está habituada a fazer refeições,
em consequência do uso mais acentuado da água na cozinha, antes e depois das
mesmas. O consumo mínimo verifica-se no período noturno, geralmente nas
primeiras horas da madrugada.
Para o traçado da curva de consumo, é
necessário que haja um medidor instalado na saída do reservatório de água para
a cidade capaz de registrar ou permitir o cálculo das vazões distribuídas em
cada hora.
A relação entre a maior vazão
horária observada num dia e a vazão média horária do mesmo dia define o
“coeficiente de maior consumo”:
K₂ = maior vazão horária do dia de maior consumo / vazão
média horária do dia de maior consumo
Seu valor oscila bastante,
podendo variar entre 1,5 e 3,0. Entre nós é usualmente adotado para fins de
projeto o valor 1,5. Esse coeficiente é utilizado quando se pretende
dimensionar os condutos de distribuição propriamente ditos que partem dos
reservatórios, pois permite conhecer as condições de maior solicitação nessas
tubulações.
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Assista a essa pequeno
documentário da Juliana Camargo,
autora do blog Bem Estar. Ela explica como faz para evitar o desperdício de
água.
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